Ao ver escoar-se a vida humanamente
Em suas águas certas, eu hesito,
E detenho-me às vezes na torrente
Das coisas geniais em que medito.
Afronta-me um desejo de fugir
Ao mistério que é meu e me seduz
Mas logo me triunfo. A sua luz
Não há muitos que a saibam reflectir.
A minha alma nostálgica de além
Cheia de orgulho, ensombra-me entretanto,
Aos meus olhos ungidos sobe um pranto
Que tenho a força de sumir também.
Porque eu reajo. A vida, a natureza
Que são para o artista? Coisa alguma.
O que devemos é saltar a bruma,
Correr no azul à busca da beleza.
Mário de Sá-Carneiro
sexta-feira, 3 de outubro de 2008
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