Não era só a voz o som a oitava
Que ele queria sempre mais acima
Nem sequer a palavra que nos dava
Restituída ao som de cada rima
Era a tristeza dentro da alegria
Era um fundo de festa na amargura
E a quase insuportável nostalgia
Que trazia por dentro da ternura
O corpo grande e a alma de menino
Trazia no olhar aquele assombro
De quem queria caber e não cabia
Os pés fora do berço e do destino
Pediu uma cerveja e poesia
E foi-se embora de viola ao ombro.
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Na tua voz há tudo o que não há
Há tudo o que se diz e não se diz
Há os sítios da saudade em tua voz
O passado o futuro o nunca o já
Há as sílabas da alma e há um país
Porque tu mais que tu és todos nós
Na tua voz embarca-se e não mais
Não mais senão o mar e a despedida
Há um rastro de naufrágio em tua voz
Onde há navios a sair do cais
Nessa voz por mil vozes repartida
Porque tu mais que tu és todos nós
Há mar e mágoa e a sombra de uma nau
A gaivota de O'Neill e o rio Tejo
Saudade da saudade em tua voz
Um eco de Camões e o escravo Jau
Amor Ciúme Cinza e Vão Desejo
Porque tu mais que tu és todos nós.
Manuel Alegre
terça-feira, 14 de outubro de 2008
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