sexta-feira, 30 de julho de 2010

Chorava por o seu estômago já não se pronunciar.
A fome tinha sido a única coisa agradável que lhe acontecera na vida,
e até ela a abandonou.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Pensando em Ti

Se ainda não esqueceste
As manhãs em que a sorrir
Nos levantámos, depois
De uma noite sem dormir

Se ainda não esqueceste
O acordar da tristeza
A ver as horas passar
E o jantar frio na mesa

Se ainda não esqueceste
Cartas que então te escrevi
Se ainda abres, por vezes,
Os livros que te ofereci

Se ainda sabes de cor
As cores que sempre vesti
Canções que sempre cantei
As cores que sempre escolhi

Sabes... eu ainda passo
Muitas noites sem dormir
Mas de manhã - ao levantar
Sinto frio e já não sei sorrir

E as cartas que te escrevo

Mas que acabo por rasgar
São sempre iguais
Só falam de amor
Pedem-te para voltar

Se ainda não esqueceste
Os momentos de prazer
Que uma criança nos deu
Desde que a vimos nascer

Ao fim de um dia de Verão
Passeios à beira-mar
Deixando atrás pela areia
Os pés marcados a par

Se ainda não esqueceste
Os silêncios que quebrei
Para dizer-te a chorar
Foste a única que amei

Se ainda não esqueceste
O dia em que nasci
A nossa primeira noite
O pouco que te pedi.

ToZé Brito

Bonito, bonito ainda são as canções do ToZé Brito

domingo, 18 de julho de 2010

Tenho saudades tuas.
Foste passar uns dias longe e já sinto a tua falta.
Quatro semanas é muito tempo, pelo menos parece ser...
Não me apetece escrever pois não sei pôr em palavras este vazio que sinto.
Deixo-o ficar comigo, enquanto anseio pelo teu regresso.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

A palavra saudade foi proíbida
na linguagem do povo de outrora
significava pão da vida
depois ficou-se pela partida
não sei o que ela é agora

Perdi-me na imensidão
da cidade já esquecida
por entre a multidão
de gente feita furacão
na lava da nossa vida

Ai! Memória que perdi
por entre os canaviais
já não sei o que é de ti
só sei que me perdi
e não me encontro mais.

domingo, 4 de julho de 2010

Somos do Mar e do Vinho

A nossa vida é tão chata
E ficamos a pensar
Se merece mesmo a pena
Nós andarmos a penar

Eu escuto as palavras
Mas não vejo as acções
Temos muitas teorias
Mas não temos soluções

Depois bebemos um copo de aguardente
E a vida parece melhor
Somos da terra do vinho
Temos falta de carinho
E o futuro ainda pior

Ah a nossa vida
É um labirinto de paixão

Mas se surgem os problemas
Enfrentamos duma forma audaz
Nós já perdemos o medo
Seja o que for tanto faz

Ah a nossa vida
É um labirinto de paixão

Quem não fala com verdade
Quem em si não acredita
Quem não joga o jogo certo
Só semeia a confusão.

Fernando Girão (para a voz de Ricardo Ribeiro)

sexta-feira, 2 de julho de 2010

No Silêncio De Uma Catedral Verde

Ergui-me no silêncio de uma catedral verde.
Estranha cor esta que escolheram para uma catedral; talvez a quisessem vestida de esperança, e afinal, acabaram por manchá-la de sangue.
As mãos do padre ainda se apresentam com marcas do seu crime.
Um Homem nunca deveria rejeitar um filho, mesmo quando essa criança é feita sobre a anunciação de um pecado. A criança nem teve tempo de soltar as primeiras lágrimas, pois mal saiu do ventre da sua mãe, já o pai estava pronto a asfixiá-lo. A mãe chorava uma dor que apenas ela podia compreender, matavam-lhe a seiva do seu corpo, decepavam-na sem lhe terem pedido licença.
O padre esfregava as mãos, para ver se conseguia afugentar da sua mente aquilo que tinha feito. Não conseguia soltar uma lágrima que fosse, e a sua cabeça latejava como os sinos daquela velha catedral. Subiu e desceu várias vezes a escadaria que dava para o quarto da sua amante de tantas noites, desnorteado por uma criança que rejeitava como sua.
Que escândalo! Que vergonha!
Imaginava o povo todo a revoltar-se contra ele e a virem na sua direcção com archotes prontos a pegarem-lhe fogo. Talvez por isso, decidiu que apenas restava uma saída para aquela criança: teria de morrer nas suas próprias mãos. E foi assim, que no meio do silêncio daquela catedral, ele matou o seu próprio filho.
A mãe sabia perfeitamente aquilo que o velho padre tinha feito á sua criança, mas não tinha forças para fazer fosse o que fosse. Gritou com quantas forças tinha, disposta a ultrapassar todas as paredes que a protegiam (ou davam-lhe a ilusão de uma certa protecção).
Mas o silêncio manteve-se inalterável.
Já não se ouvia o choro de nenhuma criança e o velho padre já ia noite fora à procura de um copo de vinho que lhe acalmasse o espírito.
A mulher viu-se sozinha, a chorar o nome que lhe tinham posto, e que tinha perdido na mesma noite do seu novo baptismo: mãe.