sábado, 27 de junho de 2009

Um Brinde À Existência

Fazes-me cantar até a garganta ficar rouca
as veias começam a querer sair de onde estão
e ganham nova pulsação num lugar longínquo...
não podes conter aquilo que não é teu, deixa
a minha voz gritar por dentro de mim e eu asfixiar
nesse mar de agonia que mora em todos nós.

Deixa-me fazer laços na minha voz, prendê-la
para todo o sempre e acertar sempre no tom
sorrir para todos e pensar que tudo isto é um dom
e nunca pensar o que vai para lá da razão.

Penso logo existo, e é assim que vivo
entre o antes e o depois, entre o viver
e o que morre em cada pôr-do-sol, entre o
sublime e o profano, a pensar sempre que
errar também é humano.

Um brinde à existência...à saúde do meu amor!

Acertei no tom...disse em dó maior.

domingo, 21 de junho de 2009

Romeu

Romeu.

Romeu..

Romeu...

Meu..

Eu.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Declaração de Prazer

Podes não ter vindo a mim como outros vieram, mas vieste;
Podes não estar tão próximo de mim como os outros, mas aproximaste-te;
Sabemos ambos o que trabalhámos, sabemos ambos o que custou, sabemos ambos que aos poucos vens ter comigo, sabemos ambos que segunda-feira vais estar comigo como nunca voltaremos a estar, sabemos que no fim vamos chorar os dois quando as luzes ja estiverem apagadas e existir o apenas tu e eu...

Gosto de nós, gosto de ti, gosto de fazer-te, de moldar-te, gosto que sejas meu e não igual a tantos que para aí andam, sei que a maioria não vai gostar mas agora páro e penso...e porquê fazer as coisas para a maioria? Eu gosto de descobrir-te, eu gostei de dar-te esta oportunidade, de dar-nos esta oportunidade, e sei que tão cedo não me volto a apaixonar por uma personagem como por ti, sim...a palavra certa é paixão! Só uma paixão traz tantos dissabores, traz tantas discussões, tanto mal estar mas também tanta alegria quando por alguns momentos sinto que acertei num gesto, numa entoação...o nosso dia é assim, feito de pequenas vitórias, de pequenos passos para eu alcançar-te, de pequenos gritos interiores para te soltares de mim.

Não somos iguais, nunca o seremos, aquilo que eu sei do amor nunca o diria como tu, guardaria para estas linhas e nada mais, não me abriria tanto como tu, talvez por isso te admire e respeite a tua exposição, e talvez também por isso seja díficil alcançar-te, ou então não estava habituado a trabalhar realmente e até agora foram apenas facilidades, porque não dizê-lo? Lutei por conseguir-te, de todo o lado me disseram que eu não era capaz (de muito lado também me disseram que eu ia conseguir) e hoje eu sei que consegui, com as dúvidas do costume, mas sei que consegui. Não estás nos parâmetros que se espera, estás nos meus, naqueles que realmente me interessam, naqueles que eu tenho para dar porque se fizesse igual aos outros não valia a pena continuar a fazer da representação o meu modo de vida (a minha vida).

Não quero ser egocêntrico, pensar que sou o melhor, ter o meu nariz a tocar na lua, quero continuar a ser aquilo que sempre fui, aquele que quando sobe a palco sabe o que tem a fazer e que cá fora é tão comum como qualquer comum que por aqui ande. Tenho que ser diferente nas tábuas, na minha cabeça, aí continuarei a ser diferente, mas a guardar essa diferença para mim, aí sim sou egocêntrico.

Vou continuar a chorar, em palco praticamente não consigo mas sozinho ninguém bate o meu recorde...e tenho de mais uma vez agradecer aos que sempre estiveram comigo, aos que continuam a acreditar que eu sou capaz de fazer mais e que ainda tenho muito para mostrar; eu próprio às vezes não confio em mim, digo que não vou ser capaz e depois...depois acabo por fazer e isso é o melhor de tudo. O não desistir e continuar aqui de cabeça levantada e quanto a isso, meus amigos e "inimigos", vão ter sempre de levar comigo assim, porque não sou avestruz e não nasci para ter a cabeça dentro de um buraco de terra.

sábado, 13 de junho de 2009

Naufrágio...

Nunca sabemos o que salvar no meio de um naufrágio, pelo menos deve ter sido isso que pensou Robinson Crusoé quando se viu atirado para uma ilha, sim, apeteceu-me falar de Robinson Crusoé, e também de uma ilha...vivemos todos numa ilha, felizmente numa em que não temos de conviver com o Alberto João Jardim se não, com certeza, que rapidamente iríamos construir um bote e fugir rumo ao Atlântico, mesmo que isso custasse a nossa vida, antes isso do que viver com o fascismo encapuçado. Mas não quero falar de política, prefiro ficar-me pela ilha...pela água...pelas árvores...e lembro-me de fruta, muita fruta pelo chão e nas próprias árvores, fruta apodrecida muitas vezes, também nós aqui, na nossa ilha, temos muitas vezes de conviver com fruta apodrecida e fingir que ela ainda está madura. Todos naufragamos sem nos apercebermos das dimensões do naufrágio, somos todos um barco com destino no vazio, no marasmo, na impaciência também. Porque é que navegamos? Porque é que não paramos no meio do oceano e ficamos apenas a olhar para as gaivotas, e porque não desejarmos ser uma gaivota? Mas uma que nunca pouse em terra, uma que ande sempre de rocha em rocha, apenas isso...o mar e as rochas. Não sei se conseguia ser gaivota, deveria morrer de medo de me cair uma pena e já não conseguir voar...e não ia gostar de ser uma gaivota sem uma pena, tinha que as ter a todas. Aos domingos também não me importava de ser rocha e de ficar quieto, a receber as outras gaivotas, senti-las no meu dorso enquanto a água ia batendo em mim, enquanto as ondas se desfaziam ao chegarem-se a mim, é sempre assim, desfazemos sempre tudo aquilo que nos toca, não sabemos ser cuidadosos, somos brutos por natureza. Tudo isto nasceu com Robinson Crusoé, ou talvez com o náufrago do Tom Hanks, aquele que por amigo tinha uma bola e que mais tarde regressa a casa e já não tem lá nada que o espere, que o identifique. A ideia do naufrágio persegue-nos, a ideia de perdermos tudo no mar, ou talvez na rua, seja onde for...o perder tudo. Isso é o que nos assusta...bem...isso e o infinito e mais além (sim, deu-me para referir o toy story agora...) enfim, vou deixar-me levar mais um pouco...rumo a esse infinito.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Fim da Vida

"Sabes o que é pior? Saber que um dia vou morrer e que ainda deixei muita coisa por fazer aqui...agora que estou a chegar ao fim da vida é que apercebo que não fiz nada daquilo que realmente queria, apenas comecei as coisas, nunca as terminei, deixei tudo incompleto, é triste sabes...é triste chegar a este ponto em que já não temos mais caminho e sentir que agora é que tudo estava a começar, que agora é que ias começar a saber viver. A vida marca-nos, fere-nos, dá-nos golpes que nunca imaginámos receber e principalmente...principalmente ela é esquiva, foge-nos por entre os dedos sem dar-mos conta dela, o tempo passa por nós, sabes? O tempo passa por nós e não tem pena nenhuma. Não me arrependo de nada do que fiz, sabes? Quer dizer, obviamente que há coisas que eu poderia ter feito de outra maneira, e se fosse hoje certamente que seria tudo diferente, mas faz parte dar pequenos erros, ter algumas falhas pelo caminho, eu pelo menos penso que sim. Gostava de ter escrito um livro, sabes? Um livro daqueles cheio de histórias, um daqueles de que eu pudesse ficar orgulhoso quando o desse a ler aos outros, um daqueles que os outros pudessem ficar orgulhosos de mim quando o lessem, sim...gostava de ter escrito um livro. Gostava de ter feito tanta coisa, de ter visto muitas coisas nascerem das minhas mãos, percebes? Sinto que as minhas mãos deixam muito por fazer, como se elas fossem construtoras de algo que nunca vai existir, é estranho...é estranho tudo isto, todos estes pensamentos, mas talvez seja o normal quando se chega a este ponto, a esta encruzilhada. Não gosto de pensar no que ficou para trás, se ficou para trás é para lá ficar, mas talvez no final da vida devesse-mos rever tudo aquilo porque passámos, tudo aquilo que aconteceu, sim...talvez isto seja normal para um velho como eu. Bom, já deves estar farto de me ouvir, muito bem. Vou deitar-me e talvez seja hoje que a morte me visite, ao menos que venha durante o sono e não bata à porta. Nunca gostei de estranhos..."

domingo, 7 de junho de 2009

Senhora da Nazaré

Cheguei a casa e respirei o meu ar, aquele que sempre foi meu e que ninguém pode ver, aquele que apenas entra em mim e não tem espaço para caber no nariz dos outros. Entrei em casa e apeteceu-me chorar, chorar pelo que fui e pelo que fiz, pensar nos momentos em que fui feliz e naqueles em que não tive ninguém ao lado (e afinal a minha vida sendo verso soube ser fado e eu sempre caminhei com a esperança de encontrar alguém que soubesse para onde eu ia). Cheguei a casa e lembrei-me do que fui, dos lugares por onde andei, as mudanças que o meu corpo sofreu, que eu próprio também sofri, lembrei-me de tudo aquilo que passou por mim, lembrei-me principalmente das minhas lágrimas num quarto às escuras, à espera que alguém se lembrasse que eu existia e me quisesse dar um abraço. Lembrei-me de tanto e fiquei com tão pouco...fiquei apenas com aquilo que devia ficar, desses tempos apenas algumas memórias sobraram e sei que essas vão manter-se pela vida toda, vão ficar gravadas em mim e eu nelas...sabes uma coisa? Agora sou feliz, agora consigo sentir por breves momentos o que é a felicidade porque estou contigo, a minha solidão arranjou companhia e já não sabe o que é estar sozinha; construíste a minha felicidade e ainda me trazes sonhos, hoje o fado é outro...

"...também sou um pescador que anda no mar
Ao largo da vida apreoei nas vagas sem fim
vi o meu barquito de sonhos quase a naufragar
As minhas redes lancei com confiança..."

terça-feira, 2 de junho de 2009

Voltar a Ser (fado do regresso)

Eu vou
voltar a ser
tudo o que eu já fui um dia
tudo o que eu já queria ser
antes de te querer

Eu vou
voltar a ver
o lado bom das pessoas
as suas coisas boas
antes de entristecer

Mais vale
somar paixão, somar desilusão
até tudo nos doer
porque eu vou
Voltar a ser
tudo o que eu já fui um dia
tudo o que eu já queria ser
antes de te querer

Eu sei
que vou voltar
ao coração por um fio
porque é do meu feitio
e já não sei mudar

Mais vale
somar paixão, somar desilusão
até tudo nos doer
porque eu vou
Voltar a ser
tudo o que eu já fui um dia
tudo o que eu já queria ser
antes de te perder.

João Monge