quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Um Pouco Da Tua Alma

Afinal talvez as palavras estejam mesmo gastas
E os gestos ganhem o seu significado...
(como se o teu corpo tivesse roubado
à língua portuguesa todos os adjectivos
que possam dizer o que é a perfeição)

Os teus dentes de marfim erguem-se nuns lábios
Que vêm pousar junto dos meus e parecemos
Rochas junto do mar, sempre ali a levar com as ondas
E a observar o estranho rumo dos barcos

Deixa-me navegar em ti
Deixa-me olhar para o teu rosto
E pensar que os meus sonhos ganharam forma
E que és tudo aquilo que alguma vez ambicionei
(ousei sonhar tão alto e a manhã trouxe-te
em seus braços como recém nascido)

Aperta-me em teus braços
E talvez consigas sentir uma alma
A pousar no Outono que tu és
(trazes a chuva em meu rosto
e fazes de mim aquela folha
que sempre quis ser para poder
voar sem direcção)

Quero falar-te ao ouvido
Quero dizer-te as palavras
Que estão fechadas a cadeado
E que gritam de sufoco
Por já nao aguentarem esta prisão

Trouxeste as chaves destas algemas
E (dura contradição) és prisão;
Mas uma prisão onde me entrego de livre vontade
Onde quero que o meu corpo fique preso
E de onde a minha alma não encontre fuga
(prende-me em ti...deixa-me ficar em ti)

E adormece...
Adormece nesta noite para eu te poder sonhar,
Para eu poder ver os teus olhos brilhantes
(mesmo estando fechados)
Pois são apenas eles que fazem a minha noite

Atrevo-me a soltar as palavras
Atrevo-me a dizer que talvez sejas a parte de mim
Que eu lutei por encontrar e que ganhou a tua forma
És o poema que nunca ousei escrever
Por pensar que não seria possível
(hoje sei que não há versos que te bastem
e que tudo saberá a pouco, a um resumo
daquilo que realmente és)

Não te posso descrever em palavras
Nem quero! (Elas iriam faltar...)
Olha para os meus olhos
E talvez eles digam o que agora
Me falta contar

Dá-me o teu ouvido
E talvez consiga morder
Um pouco da tua alma.


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