Olha o modo como aquela mãe embala o filho nos seus braços
como se o mundo tivesse parido a felicidade no seu ventre
como se ela fosse uma extensão de todos nós, do que podíamos
ser se conseguissemos algum dia ser apenas paz...calma...
porquê esta ânsia de viver no amanhã sem viver o hoje?
porquê este não saber para onde irmos e não pararmos para pensar?
A lucidez foge-nos por entre os dedos, somos restos de algo
que veio ao mundo, somos metade daquilo que eramos
quando nascemos. A vida não traz evolução...traz inteligência
que é o mal da humanidade, porque todos julgam que a têm
mas ninguém sabe o que ela realmente é.
Era tudo tão mais simples se fossemos apenas os braços
que embalam aquela criança. Porquê que não somos canções de embalar?
Dorme meu menino, a estrela de alva
Já a procurei e não a vi
Se outra não vier de madrugada
Outra que eu souber será para ti
Gostava de ser uma nota musical, de ficar pelo ar
e ser agradável ao ouvido. Somos uma pálida sombra
daquilo que sonhámos realmente ser, não somos ousados,
andamos a marcar passo sem pedir licença.
Queria trincar o fruto proíbido, só para lhe sentir o sabor,
ficar com o caroço entalado na garganta e sentir
o meu corpo sufocado, sentir vida por dentro desta pele
que me agarra ao mundo.
Queria ser urso e correr pelas montanhas, à caça de tudo
aquilo que mexe e que deita odor. Predador sem destino...
Esquecer esta selva em que vivemos e ir para aquela que é real;
Quero ser mordido...quero que venham tiros contra mim
sentir a dor de viver...sentir que algo ainda pulsa,
e lá longe quero ouvir disparos de canhões...quero fogo!
Quero grandes labaredas a tocar no céu
e sentir que tudo isto não passa de um vulcão com lava,
e depois quero apenas ser pedra que observa o que passa
mas não sabe nada de si mesma.
Só de ouro falso os meus olhos se douram;
Sou esfinge sem mistério no poente.
A tristeza das coisas que não foram
Na minh'alma desceu veladamente.
Quero ser poesia, quero que as palavras cresçam
e que se juntem em acordes perfeitos,
quero ser escala afinada, quero ser a liberdade poética
que todos trazemos nas veias.
Quero puxar das rédeas deste cavalo à solta
que anda por sobre o mundo sem encontrar o feno.
Em ti respiro
Em ti eu provo
Por ti consigo
Esta força que de novo
Em ti persigo
Em ti percorro
cavalo à solta
pela margem do teu corpo.
Não quero saber para nada de ternura, por agora
quero os gestos violentos, quero a paixão entrenhada na carne,
quero a violência dos instantes vividos, não contados,
quero o barulho secreto das tocas, quero ser doninha
que se esconde e que deixa rasto. Hoje sou esconderijo,
sou aquele que se nota mas que ninguém vê.
Ah! Se eu podesse ser sombra e cuspir no chão!
Ah! Se eu podesse ser fome e não ter pão!
Ah! Se eu podesse ser sede e não ter água!
Não pensem que sou sermão, que falo aos peixes,
falo para vocês todos que lêem estas palavras
e nelas buscam reconhecimento.
Ah! "Tabacaria"...poema nunca feito
palavra não construída
pensamento sem fim...
nada...tudo...e nada...
terça-feira, 2 de setembro de 2008
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