sábado, 6 de setembro de 2008

Ao vento...

Baixo os braços e a cabeça como comandante derrotado perante o seu batalhão. Cansei-me de tudo; depois das guerras passadas, do deserto percorrido, já nada ficou, já nada resta. Apenas o estranho sossego destas tardes de Setembro, a estranha brisa que corre pelas árvores e faz com que as folhas se movimentem lentamente. Antes eu também queria ser folha, queria poder cair de uma árvore enorme e andar por aí sem destino, apenas voar pelos sítios que já conhecia, mas agora quero ser árvore, não pretendo mais sair do mesmo sítio, quero ser o estranho monge que não desce da montanha e que ali fica feliz. Também eu sou feliz agora, nesta montanha onde me pus a observar tudo o que se passa nas terras distantes. Apetece-me ouvir guitarras, abraçar-me à canção e cantar os grandes poemas da nossa língua, sentir o sal da língua, sentir este mar que somos neste oceano em que nos perdemos, cantar, cantar...percorrer as ruas de Lisboa, ir à velha taberna e poder ver o sorriso (de tristeza, de alegria...) na cara das pessoas. Hoje quero ser embalado por essas canções de resistência, quero gritar às paredes para que o povo me ouça pela cidade:

Venham mais cinco, duma assentada que eu pago já
Do branco ou tinto, se o velho estica eu fico por cá
Se tem má pinta, dá-lhe um apito e põe-no a andar
De espada à cinta, já crê que é rei D'Aquém e Além-mar

Não me obriguem a vir para a rua gritar
Que é já tempo de embalar a trouxa e zarpar...
Tiriririri...buririririri...tiriririri...puraburiabaie...

Já sinto o cheiro a terra nova, a terra nunca antes pisada, a qualquer coisa de novo que se move, novos tempos se aproximam (sempre), temos apenas de estar disponíveis para eles e sentir-lhes o sabor, olhar para o céu e saber interpretar as nuvens, não ver caras mas ver presságios, ver o nosso futuro escrito no azul do céu. Antes eu não era assim mas:

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades
Muda-se o amor e a esperança
Todos nós somos compostos de mudança...

Mas não me esqueço do que ficou para trás, seria impossivel fazê-lo, foram tantas coisas, tanta Vida, dezoito anos, foi tudo isso que ajudou a construir aquilo que eu hoje sou, foram todos vocês que vão passando pelo meu caminho (os que ficaram, os que foram...), todos vocês que ainda vão aparecer, todos aqueles que desapareceram sem deixar rasto mas que ainda me vou lembrando (tempos em que tinha berlindes na mão e chegava a casa com as calças sujas...). Obrigado. Obrigado por tudo aquilo que me trouxeram, principalmente as pessoas especiais que foram passando por mim (poucas é certo mas insuficientes ainda...). Venham mais cinco, venham mais dez copos, vamos fazer uma grande festa, vamos brindar a nós todos, vamos festejar tudo isto que nos acontece. Batam copo com copo. Quero ouvir o estranho som do vidro, e ao fim da noite ver o nascer do sol na minha janela. Respirar o ar da manhã, ser a tal árvore, grande, repleta de folhas, ao vento...

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