sábado, 6 de setembro de 2008

À Meia Noite Todos Os Gatos São Pardos...

Não sei mais o que dizer. Dissemos tudo o que poderia ter sentido e algumas coisas ainda ficaram por falar, embora talvez nunca venham sequer a ser ditas. Olhos nos olhos as coisas seriam de outra forma, não seria esta estranha cadência que as palavras escritas têm, sairiam as coisas naturais, as palavras essenciais, pois as palavras ditas são mais forte que as escritas. Algumas coisas ficaram-me na memória, não tenho a certeza se as quero apagar, penso que não devemos apagar aquilo que é nosso, aquilo que ouvimos, dissemos, escrevemos...tudo isso será importante depois, para recordar tempos mais tarde, para vermos as atitudes que tomámos, por vezes não foram as mais certas (já me arrependi de tantas...) mas na altura tinham sentido e só por isso merecem o meu respeito. A vida é tão confusa por vezes; não nos deixa ver aquilo que queremos, fazer aquilo que queremos, ser imponderados, não pensar, não ponderar nas coisas (porque se perde tanto tempo a pensar e não se age logo? Acabamos por fazer a asneira à mesma, mais vale fazê-la o quanto antes...). Somos todos um projecto inacabado, no papel, nunca chegamos a ser o edíficio completo, ficamo-nos sempre pelos pequenos pormenores, à superfície do que poderíamos realmente ser, claro que uns vão mais longe do que outros (e há uns que embora estando para trás pensam sempre que estão alguns passos à frente, só mostra o quanto ainda lhes falta tropeçar, cair...). O jogo está viciado...as cartas são sempre as mesmas...o baralho é antigo...os jogadores não mudam..cheira tudo a mofo, o mundo está repleto de naftalina e não passa de bolor agarrado ao Universo; por vezes penso que devia vir um cometa e arrasar com isto tudo, começar tudo outra vez, mas não para isto ficar melhor...apenas para isto ficar diferente, é tão entediante acordar e ver que tudo está na mesma, nada muda, tudo à nossa volta permanece igual. Sim...há alturas em que tudo nos parece diferente e parece que as coisas mudaram, ilusão do momento, por dentro, no caroço das coisas, continua tudo igual, o bicho continua a roer a fruta enquanto nós ainda vamos na casca. Era necessário uma vacina para tudo isto, bem espetada no coração de cada um de nós (ou na cabeça? Onde está o ínicio de tudo? Quem nasceu primeiro? A galinha ou o ovo? A realidade ou a ilusão? Será que somos uma verdade, uma coisa concreta? E se temos fios? E se somos manipulados como marionetas? E se alguém constrói o nosso destino num caderno de linhas tortas? E se alguém está a escrever a nossa vida? Será que nesse sítio existe corrector? Que se podem apagar certas coisas?) É tudo tão superficial, andamos por aí e é tudo tão à superfície...ninguém se conhece, ninguém quer conhecer os outros, somos coisas minisculas que vamos chocando uns nos outros a certa altura mas que seguimos sempre caminhos diferentes. Que estranhas são as caras do mundo...das pessoas...das ruas...tudo com máscaras...tudo uma tragédia sem autor. Faltam-me as palavras, não sei mais como descrever tudo isto, mas também não tenho de o fazer, posso ser como os outros...um inútil que fica a assistir ao estranho espectáculo que é a vida, porque tenho de ser um interviniente? Posso apenas ser um mero espectador, não saltar para o outro lado da cortina (mas a tentação é tão grande...de pertencer ao espectáculo). Não quero olhar para ninguém hoje, vou apenas olhar para um espelho (já sei que vou fugir, já sei que vou ter medo dos meus olhos e do que eles mostram), mas posso sempre apagar as luzes e ficar apenas eu e o espelho, na penumbra...eu a tentar entrar em mim mesmo, numa estranha metamorfose. O silêncio pode dizer tantas coisas, pode trazer tantas novidades. Vou abrir a minha janela e vou fitar a lua, como se estivesse a preparar um duelo sem armas (ou tu ou eu...) e será que ela vai responder? Será que a lua vai descer de lá de cima e vai entrar pelo meu quarto a dentro? Será esta essa noite? Será? À meia noite todos os gatos são pardos...

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