segunda-feira, 29 de março de 2010

Da Morte Não Espero Nada

Não sei se parta, se fique
Da morte não espero nada
Vou mas é fazer-me à estrada
Andar co'a vida ao despique
E sobretudo no Entrudo
Manter a cara lavada
A cantar à desgarrada
A cavalo numa espiga

Se assim quiser a cantiga
E bailar e fazer pose
No prato do arroz doce
Pr'a alegrar a madrugada
Vou mas é fazer-me à estrada
Da morte não espero nada

Não sei se entenderam bem
Não é uma brincadeira
A história se é verdadeira
Dá sempre aquilo que tem
À fantasia escondida
De qualquer coisa perdida
Não sei se fico, se vou
Eu já nem sei onde estou

Com tanta hora de estrada
Eu já nem sei estar parada
E se ouço um assobio
Continuo mas sorrio
Vou mas é fazer-me à estrada
Da morte não espero nada

Não sei quem veio acudir
Ouço contar uma história
Com voz de pai ou de mãe
Ao pé de mim está alguém
E nunca é a fingir
Quando estou quase a dormir

Chegado o tempo das magas
Com as luzes apagadas
Eu olho o mundo daqui
E que lindo que ele é
Que ao vê-lo eu sinto até
Que já morria por ti

Vou mas é fazer-me à estrada
Da morte não espero nada.

Amélia Muge (para Ana Laíns)

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