terça-feira, 30 de março de 2010

Abri o guarda-chuva.
Já me tinha esquecido do que é sentir a água a cair-nos sobre o rosto.
Lembrei-me da banheira onde a esponja era o carro que percorria a estrada do meu corpo, sempre sem destino, sempre à deriva pelas minhas costas.
Aos poucos confundi a água da chuva com as minhas lágrimas.
Ninguém reparava em mim.
Quem passava tinha algum destino, apenas eu estava à deriva.
Quando dei por mim estava frente-a-frente com um carro.
Ele apitava, apitava...o som daquela buzina na minha cabeça, até agora...
Quis fugir, esconder-me, meter-me na toca de onde nunca devia ter saído.
Procurei o ventre que me gerou e tive medo de não encontrar o sítio onde um dia nasci.
Chorei por me sentir órfão.
Chorei por ser filho daquela chuva que me caía no rosto.
Deixei cair o guarda-chuva na estrada onde me encontrava.
Estava perdido, perdido de mim mesmo.
Não sentia o meu cheiro, não reconhecia aquele lugar, não sabia como tinha ido ali parar.
E olhei para as minhas mãos...já não eram minhas
Não reconheci aqueles traços, aqueles dedos.
Tudo era diferente de mim, eu já era outro.
Talvez nunca tenha sido eu mesmo.
Talvez que eu fosse aquele que nunca foi.
O que ainda poderá ser...sei lá.
Sonho de mim mesmo...talvez fosse isso.
Um sonho de mim mesmo. Talvez me tenha criado a mim próprio.

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