segunda-feira, 1 de março de 2010

Ao ver o Cabaret lembrei-me do Ary. Do Ary das "Sete Letras"..."esta palavra saudade...sete letras de ternura...sete letras de ansiedade e outras tantas...de aventura". Lembrei-me do José Luís Gordo..."Nossa Senhora das Dores...tem sete espadas no peito...sete espadas, sete dores...num coração tão perfeito...".
São letras que nos matam, sete letras que reunidas fazem um Mar Português. Quem uniu as letras de forma a fazer esta palavra, única em todo o mundo? Quem terá sido o poeta que se lembrou de, um dia, inventar a mágoa? E de quem foi a primeira lágrima? A tristeza nasceu ao mesmo tempo da alegria? A felicidade existe ou é um mito? Lembrem-se da primeira vez em que choraram, aquela vez em que estavam nos vossos quartos e as lágrimas começaram a cair, lembrem-se desse primeiro choro. Lembrem-se da primeira cantiga, dos primeiros sons, cheirem a vossa infância. E lembro-me da Rosa Lobato de Faria, quem melhor do que ela para descrever os aromas da nossa existência? E o cheiro do corpo? Lembro-me do Mourão-Ferreira..."olho as roupas no chão, que tempestade!...há restos de ternura pelo meio...". E a Natália..."do amor nada mais resta que um Outubro...e quanto mais amada mais desisto...". Todos estão vivos e ainda a escreverem o primeiro poema. Ninguém conseguiu descrever o amor, podemos aproximar-nos daquilo que ele poderá ser, mas ninguém consegue pô-lo em palavras. E pensem no acto de perdoar...perdoo-te aquilo que passámos mas não o que ainda vamos passar...quem somos nós para perdoar ou censurar alguém? Somos feitos de imperfeições, daquilo que gostaríamos de ser, do que ambicionámos. "Creio que o amor tem asas de ouro...amén", também eu creio nas deusas, nas fadas, nos atlantes, na vida para lá do seu sentido. Gostava de ser eu a escrever a minha história, de vê-la nascer de mim. "Nem má sorte, nem má sina, nem choradinho trinado...o destino só destina, quem já nasce conformado", Manuel Alegre. E tantos outros a colocarem dúvidas a todos nós, cada poema é uma pergunta que nunca tivemos coragem de fazer. E quanto a mim...
agarro a madrugada
como se fosse uma criança
uma roseira entrelaçada
uma videira de esperança...

sempre o Ary.

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