terça-feira, 24 de março de 2009

Suícidio

Largou tudo e foi para onde não o conheciam, foi para essa tal noite onde se escondem os mochos e onde não se ouve o mínimo barulho. Andou com cuidado para não ser ouvido, e teve sempre a atenção de olhar para trás, apenas para ver se alguém o seguia, nestas coisas nunca se sabe, há sempre alguém que nos vê a sair de algum lugar e que decide ir atrás de nós. Ninguém o seguiu e ele sentiu-se mais seguro, precisava de paz para levar o seu plano até ao fim. Ao encontrar uma pedra alta sentou-se nela e ficou a observar uma árvore que estava mesmo à sua frente, mirou-a de alto a baixo e sorriu ao pensar o que seria a sua vida se fosse um vulgar babuíno, que vida a sua...não tinha nada de seu nem nada de outro, era apenas um vazio e nada mais. Meteu a mão no bolso e procurou o objecto desejado, lá estava ele guardado, sem se mexer, como que respeitando o momento solene que ia acontecer dentro de instantes. Não se ouvia som algum, apenas o lento barulho da noite e algumas folhas que teimavam em arrastar pelo chão. Deciciu tirar o objecto do bolso e ficou a olhar para ele durante algum tempo, ficou a ver cada contorno, cada fissura, cada rasgo. Aproximou-o do braço e fez um corte, e outro corte, e outro corte, cortou-se até o sangue correr pelo seu braço como se fosse um rio a correr para lugar incerto, quanto mais sangue escorria mais ele se cortava e a certa altura até se riu, riu-se do que estava a fazer e do que estava a acontecer-lhe...sabia que a sua vida estava a desaparecer aos poucos pois sentiu-se um pouco tonto e perdido, começou a ver tudo andar à sua roda e perdeu a noção de tempo e lugar. Já nada lhe interessava, já nada lhe importava, queria apenas viver aquele momento apenas seu e morrer em paz no meio daquelas árvores. Queria ser engolido pela natureza e o seu desejo foi concebido. Mal se deitou no chão a terra abriu uma cova especialmente para si, foi Deus que a cavou.

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