quarta-feira, 11 de março de 2009

Sobre O Pé

Naquele Inverno ela dançou um tango na Argentina como se fosse Primavera e existissem guitarras suspensas nas nuvens. Ao longe ainda se ouvia a "Maria de Buenos Aires", mas o seu tango era outro...era aquele que se incendeia, aquele cuja voz se confunde com a da tempestade e sobrevoa todo o céu de um país. Não sabia que tinha agilidade nos pés, apenas o descobriu quando o rapaz de sobretudo se aproximou e começou por levantá-la do chão (nunca tinha descoberto a sincera alegria que é voar sobre um mar de nuvens quando lá em baixo, na terra, as pessoas olham para cima como se estivessem a assistir a um fenómeno). Nunca mais dançou como naquele dia e certamente que nunca mais irá dançar assim...

Houve um dia em que lhe cortaram os pés, mas não chorou.
Há dias assim...em que os pés não deviam sair da cama.


Sobre o pé
Bate o pé
A canção aqui de pé
A nascer e a morrer
Como se não fosse viver
E no meio disto tudo
A verdade é um muro
Que não se pode ver

Sobre o pé
Bate o pé
Um povo todo de pé
A assistir ao cair
Daquela rapariga a rir
Por sobre uma nuvem...

Sobre o pé
Bate o pé
Já nada é como é
O presente e o passado
Num futuro desencontrado
Sobre o pé
Bate o pé
Afinal, o que isto é?

Uma canção com fim
Guardado.

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