terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Não Me Procures

Partiste em dois a minha rua;
hoje eu só consigo andar
num dos lados da estrada
e não tenho interesse em saber
o que se passa do outro lado.

O que foi feito das memórias?
Não tenho lembrança de nada
e apenas me lembro de um sorriso triste
à porta do Outono que demorava em abrir.

Bati quantas vezes nessa porta?
Mas a árvore teimava em não dar fruto
e havia uma teimosia própria da idade.
Havia a inconsequência...
o pensar e não agir.

O que fizemos da juventude?
Hoje o nosso sangue é feito
do vinho mais maduro e não
corre pelas nossas veias mas
sim numa cabeça que desafina.

Como se a cabeça fosse uma guitarra
que esqueceu todas as notas e não
sabe nenhuma escala...a nossa escala.

O passado é letra morta
e não há pena que escreva
novas palavras e novas frases;
somos feitos de vida quando
a morte já nos rói os ossos.

Engoliste aquilo que eu tinha
de melhor: a minha paz.
Fizeste de mim um poema de guerra
que eu nunca quis ser e que sempre
desprezei.

Espero que estejas feliz com o teu
feito. Quanto a mim vou seguir
sempre em frente na minha estrada
e talvez encontre um atalho para longe
muito longe...

Não me procures;
ando depressa.

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