O homem dançou à chuva e distribuíu dinheiro por cada um que por ele passava, não tinha serpentinas, se as tivesse também as teria lançado ao ar e ficaria a vê-las cair algures pelo chão. Era o seu dia de festa, era um dia que apenas podia ser dele pois tinha o mundo na mão, e dançava ao som de um samba que apenas ele ouvia, tocado dentro da sua cabeça e sem nunca ter fim, uma canção interminável (tal como a sua vida...). Lançava as mãos pelo ar à espera que o céu descesse para o agarrar pelo ventre e o levasse até à nuvem mais próxima, a Avenida era dele e se não fosse o dinheiro que distribuía a rodos nem iria reparar nas pessoas à sua volta (nem reparou nas suas caras surpreendidas ao verem um homem praticamente nu a dançar naquele dia de chuva). Ninguém podia compreender a sua felicidade, nem porque dançava, nem porque não conseguia parar, era um sentimento que só ele podia ter e compreender, que o deixassem em paz e ele também não iria importunar ninguém. Aquele era o primeiro dia do mundo, o Dia da Criação, o dia em que ele tinha decidido nascer; teria de mudar o seu bilhete de identidade pois só a partir daquela hora ele sentiu-se vivo e o que estava para trás era um estado embrionário do que ele viria a ser e nada mais...será que iam acreditar nesta história numa vulgar casa do cidadão? Talvez não, mas também não importava. Apenas ele era importante e o seu mundo só tinha um cidadão: ele mesmo. Não é uma questão de egocentrismo, apenas de paz interior, aquela coisa que não se explica mas de vez em quando acontece (nem tinha rezado para pedir esta paz de espírito, talvez Deus existisse mesmo e tivesse decidido dar-lhe uma prenda naquele dia).
No dia em que foi feliz.
segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009
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