Pôs os saltos altos e retocou a maquilhagem.
Saiu à rua.
Ninguém olhava para ela, era como se estivesse invisível.
Nem um piropo ouviu.
Subiu um pouco a saia de modo a poder mostrar um pouco mais da perna.
O desejo estava morto no seu corpo.
Já não suscitava o mínimo fulgor em ninguém.
Estava a apodrecer e só agora se dava conta disso.
Pegou no seu espelho de mão e a cara que viu não era a sua.
Os seus olhos estavam pálidos, cheios da fome do seu corpo.
Não podia chorar no meio da rua, fez pressão sobre os lábios.
Começou a sentir uma comichão no braço direito.
O braço direito começou a ficar cada vez mais dormente.
Sentiu uma tontura e perdeu a noção de espaço.
Deixou-se cair no chão.
Abriu os olhos...
Não viu ninguém, não sabia sequer onde estava.
Olhou para todos os lados e então reparou que tinha pessoas a seu lado, mas só de passagem.
Ninguém tinha parado para a ajudar.
"Coitada, nesta idade e ainda na prostituição...é preciso ganhar a vida..."
Teve vergonha de si.
Deve ter corado.
Prostituta?
A beleza nunca foi sua cliente e a tristeza nem pagou o que lhe devia.
A solidão é um chulo que a prostituição arranjou para se esconder.
quarta-feira, 7 de abril de 2010
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