Todas as mulheres vestiram-se de negro naquele Domingo. Ao longe ouviam-se os sinos a rebate, como se estivessem a avisar o fim da civilização mas, mais grave do que isso, o fim da aldeia. Todas estavam de luto carregado, como se tivessem sobre a roupa a noite anterior...a noite do sossego. Vestiram-se de luto por ter havido silêncio durante uma noite, por não se ter ouvido o mínimo som, estavam de luto pelos maridos mortos em noites anteriores, quando os guardas apareciam sem avisar e arrasavam tudo o que viam. É estranho pois nenhuma das mulheres chorava, estavam todas secas não só no traje mas também por dentro, como se estivessem vazias...afinal, agora iam ser apenas elas a mandar no destino daquela aldeia; estava assente sobre as suas cabeças que a responsabilidade era agora toda delas e que não podiam contar com mais ninguém.
Não havia crianças naquele sítio, as que existiam há muito que eram adultas e já tinham partido rumo a outros sítios (lembre-se agora que nenhuma das mulheres era rapariga nova, todas já teriam uma idade avançada e algumas até já pareciam mortas). Aquele cortejo fúnebre não era nada mais do que a simbolizar o fim da esperança, eram os passos perdidos do medo, era a obscura certeza que nada voltaria a ser como já fora.
Enterrou-se nesse dia a alma daquelas mulheres.
sábado, 24 de janeiro de 2009
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