Deitou-se com o corpo de todos os dias.
A cama estava um pouco desalinhada e havia até restos de passado por entre os lençóis amarrotados.
O cheiro era diferente; talvez fosse um perfume de estrelas ou até o cheiro que a lua deita quando escorre chuva por entre os seus cabelos.
Estendeu a mão e alinhou os cortinados para conseguir alcançar a noite apenas com o olhar. De soslaio reparou que a janela estava entreaberta e talvez por isso sentisse um frio pelo corpo. Fechou-a. O frio não passou.
Olhou para o lado e viu que na mesa de cabeceira estava um livro ainda por abrir, ao lado do livro um velho relógio que há muito tinha deixado de dar horas, como se o tempo tivesse decidido ter uma pequena pausa.
Bocejou. O bocejo de todos os dias.
Nada tinha mudado na casa, apenas no seu corpo, no seu velho corpo. Era apenas um revestimento para aquilo que tinha dentro de si, uma pele que não sabia cair e voltar a nascer, um resto de qualquer coisa, um nada...sim, um nada.
Naquela noite não chorou. Foi a única diferença dessa para as outras. Naquela noite as lágrimas ficaram geladas dentro de si e ao pensar nisso o frio voltou a entrar-lhe pelos ossos e pela pele, como se o corpo fosse apenas um arrepio.
Não teve coragem de olhar-se ao espelho. Faria isso de manhã...talvez fizesse isso de manhã.
Pegou num copo de água que tinha sempre junto à cama e atirou-o contra a parede.
Pegou num bocado de vidro.
terça-feira, 13 de janeiro de 2009
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