Aos poucos o corpo curva-se para dar lugar a um corpo que não é o seu; a língua ganha uma nova forma e tem uma rapidez que não conhece normalmente; o ritmo acelera de cena para cena como se cada uma fosse o final de um grande acto; a respiração intensifica-se ao som de um tango com passos feitos de suor; a imaginação toma conta de tudo o resto e faz o sonho tomar forma; a farsa torna-se género sagrado e o actor torna-se mero jogador num tabuleiro onde nada pode ser comandado; ao som de um brinde num banquete a vida lá fora pára por momentos e ganha novos contornos;
Amanhã volto a dar-te vida, voltas a nascer em mim, os teus defeitos e as minhas virtudes na tua boca, aquilo que o "Judeu" um dia sonhou volta a ganhar forma, agora no meu corpo, agora sou eu, é a minha vez, bem vindo a mim...Esopo.
quinta-feira, 30 de abril de 2009
domingo, 26 de abril de 2009
Sem Sentido
Naquela noite sem lua
talvez por andar perdido
entrei pela tua rua
em sentido proíbido
Tentei fazer marcha-atrás
mas disseste divertida
que o sentido tanto faz
se a rua não tem saída
Começando a sentir frio
e sendo já noite morta
ao ver um lugar vazio
estacionei à tua porta
Que sentido tão perverso
teve essa noite sem lua
andar em sentido inverso
p'ra acabar na tua rua
Se faz sentido não sei
mas não estou arrependido
dos sentidos que encontrei
nessa noite sem sentido.
Manuela de Freitas
talvez por andar perdido
entrei pela tua rua
em sentido proíbido
Tentei fazer marcha-atrás
mas disseste divertida
que o sentido tanto faz
se a rua não tem saída
Começando a sentir frio
e sendo já noite morta
ao ver um lugar vazio
estacionei à tua porta
Que sentido tão perverso
teve essa noite sem lua
andar em sentido inverso
p'ra acabar na tua rua
Se faz sentido não sei
mas não estou arrependido
dos sentidos que encontrei
nessa noite sem sentido.
Manuela de Freitas
sábado, 25 de abril de 2009
O Guarda-Chuva de Cecília Roth
Gosto da ideia de sair do teatro e estar a chover na rua, em mim apenas um sobretudo azul, daqueles que vão até aos pés mas que ao longe parece que roçam no chão; tenho ainda um guarda-chuva que abro enquanto ando, ao longe ficaram apenas pequenas luzes que se vão apagar dentro de momentos para voltarem a surgir no dia seguinte, gosto da ideia de algo morrer para voltar a nascer no dia seguinte, como se fosse um ciclo infindável e ininterrupto (que possa ver durante muitos anos as luzes do teatro a apagarem-se atrás de mim...). Enquanto ando, sorrio...sorrio por o dia ter corrido bem, pelo espectáculo ter decorrido da forma melhor possível e por tudo parecer conjugar a certa altura (nada está sempre certo, apenas conseguimos ter alguns momentos de paz). Fiquei com esta imagem hoje em mim e decidi escrevê-la, talvez seja uma idéia romântica depois de ter visto "Tudo Sobre A Minha Mãe" (o meu novo vício: a descoberta das antiguidades de Almodóvar), tinha de prestar homenagem aquele chapéu-de-chuva colorido de Cecília Roth momentos antes de perder o filho num acidente...como é colorido o universo feminino de Almodóvar, nunca vimos mulheres tão feias a ficarem bonitas pelo olhar atento que a sua câmara deita sobre elas. Marisa Paredes, Penélope Cruz (sim, Hollywood tirou-lhe a inocência que estava nos seus traços e deu-lhe uma maturidade que aqui ainda desconhecíamos), e depois existe Espanha, Barcelona, Madrid...as luzes, essas tais luzes do teatro que aqui estão presentes através de Tennessee Williams e Lorca, o teatro está sempre presente, a cada esquina há alguém a representar, sempre...a única arte que não tem fim, que não consegue parar, há sempre esse "puro teatro" que já tínhamos visto em "Mulheres À Beira De Um Ataque De Nervos" e o fio condutor de tudo isto: Almodóvar. Que venha esses "Abrazos Rotos"...
sexta-feira, 24 de abril de 2009
O Porquê De Ser Lume
Ai que me corre sangue
morto pelas veias da tristeza,
como parar um rio que não sabe
ter fim e que percorre todas
as partes deste corpo já comido
pelo veneno do tempo...
Ai que em mim há algo de
morto; e ressoa em mim como
se fosse um grito vindo da caverna
desse monstrengo de quem Fernando
Pessoa se lembrou de falar
Ai o porquê destas palavras mortas
este não ter rumo certo nem fim definido,
tudo está a cair pelo chão, as frutas
caem de velhas, como se fossem dentes podres
que a morte deita fora por já não conseguirem
mastigar
Ai a força da noite é maior que
a loucura do dia, e a lua é mais
traiçoeira do que o sol medonho; ai
o porquê de ser lume...e nem ter fogueira
por onde arder.
morto pelas veias da tristeza,
como parar um rio que não sabe
ter fim e que percorre todas
as partes deste corpo já comido
pelo veneno do tempo...
Ai que em mim há algo de
morto; e ressoa em mim como
se fosse um grito vindo da caverna
desse monstrengo de quem Fernando
Pessoa se lembrou de falar
Ai o porquê destas palavras mortas
este não ter rumo certo nem fim definido,
tudo está a cair pelo chão, as frutas
caem de velhas, como se fossem dentes podres
que a morte deita fora por já não conseguirem
mastigar
Ai a força da noite é maior que
a loucura do dia, e a lua é mais
traiçoeira do que o sol medonho; ai
o porquê de ser lume...e nem ter fogueira
por onde arder.
quarta-feira, 22 de abril de 2009
Uma e Trinta e Sete
O corpo ao meu lado, como se fosse
o primeiro corpo alguma vez tocado, talvez
como se fosses Eva e ainda existisse um paraíso
por encontrar...por vezes o paraíso está tão perto,
fica à distância de alguns quilómetros e dentro
de nós já arde o desejo daquilo que vamos encontrar;
o teu sorriso, o teu andar, a maneira como a familiaridade
se torna divina, como se tocar-te fosse agarrar uma estrela
e fazer dela aquilo que eu quiser
Sabes que por vezes sinto o teu cheiro, como
se vivessemos numa floresta e precisasse de seguir
o teu rasto (preciso desse cheiro,
tal como preciso de ti e daquilo que temos, dos segredos
que nunca ninguém vai ouvir, sem ser a noite, que é velha alcoviteira
de palavras perdidas)
No dia em que me perder sei que me vou encontrar
em ti, e quando decidires que tudo isto já foi
chão que deu uvas eu vou continuar a ser a árvore
que um dia deu fruto em ti (em nós); o que eu
sou capaz agora...talvez nada, talvez isto não seja
ilusão e a única coisa concreta sejas tu...
que continue a ser assim,
quanto a mim, sabes que vou
continuar a andar por aqui
a bater-te à porta.
o primeiro corpo alguma vez tocado, talvez
como se fosses Eva e ainda existisse um paraíso
por encontrar...por vezes o paraíso está tão perto,
fica à distância de alguns quilómetros e dentro
de nós já arde o desejo daquilo que vamos encontrar;
o teu sorriso, o teu andar, a maneira como a familiaridade
se torna divina, como se tocar-te fosse agarrar uma estrela
e fazer dela aquilo que eu quiser
Sabes que por vezes sinto o teu cheiro, como
se vivessemos numa floresta e precisasse de seguir
o teu rasto (preciso desse cheiro,
tal como preciso de ti e daquilo que temos, dos segredos
que nunca ninguém vai ouvir, sem ser a noite, que é velha alcoviteira
de palavras perdidas)
No dia em que me perder sei que me vou encontrar
em ti, e quando decidires que tudo isto já foi
chão que deu uvas eu vou continuar a ser a árvore
que um dia deu fruto em ti (em nós); o que eu
sou capaz agora...talvez nada, talvez isto não seja
ilusão e a única coisa concreta sejas tu...
que continue a ser assim,
quanto a mim, sabes que vou
continuar a andar por aqui
a bater-te à porta.
sábado, 18 de abril de 2009
A Cigarrilha
Sempre a cigarrilha na mão a puxar recordações por entre o fumo; eu acho que já fazes de propósito e de cada vez que eu entro na sala tens de puxar da porra de uma cigarrilha. Não é que eu não aguente o cheiro, até o suporto bastante bem, não tenho asma nem nenhum desses problemas, mas porquê? Com tanto sítio nesta casa porque tem de ser sempre onde eu estou? Não gosto da maneira como puxas o fumo para dentro, da maneira como travas isso na garganta; deve estar em algum livre de saúde a dizer que isso faz mal, aliás, isso não pode fazer bem a ninguém...mas também, verdade seja dita, quando não travas isto parece a chaminé de um comboio ainda movido a carvão. Basicamente não gosto que o faças, porque não vais para o jardim? Até pusemos lá umas cadeiras para ficares mais à vontade, e assim sempre podes ir vendo a chuva cair e o sol a pôr-se, sim...a fazer essas coisas que a gente que não sabe o que fazer do tempo faz. Um dia ainda ganhas uma doença, ah! Não duvides! Com o que se diz hoje em dia para aí é muito fácil apanhar doenças respiratórias devido ao uso indevido do tabaco, se até os que não fumam apanham quanto mais...não posso negar que dá algum charme às pessoas terem um cigarro na mão, alguma respeitabilidade e até é sinal de algum estatuto, mas há outras maneiras de provar isto tudo, porque não adoptas uma postura diferente? Sim...basta endireitar as costas e andar com o queixo para cima, não é assim tão complicado, depois em vez da cigarrilha ainda te metes na bebida...não...se calhar é melhor deixar tudo como está, para quê estragar um vício quando por trás pode estar outro ainda pior? Por hoje podes fumar, até à minha frente se quiseres, mas amanhã escondes-te na casota do cão, e por favor...não ladres.
Vou-te Levando Em Segredo
Devagar os teus olhos foram ficando
abrindo e fechando em abraços
aos poucos por dentro uma luz, clareando os teus passos
agora já sabes o quanto te dobra o lado errado do peito
agora já sentes o quanto me deixas desfeito
Sei que não dizes, que trazes o medo...
...mas posso guardar-te o segredo
Como dois barcos perdidos no tempo
que juntam as velas e chamam o vento
foste deixando as pontas dos dedos, largar-te do porto
agora já sonhas em navegar, mais perto do dia que vemos
agora é difícil não desdobrar, o que temos
Sei que não dizes que gostas do medo...
...vou desvendar-te o segredo
Agora já sabes, o quanto nos quebra, nos corre,
nos cerca e dispara de perto
agora já sentes quanto o errado, está certo
Sabes do perigo?
pode ser cedo...
Vou-te levando em segredo...
vou-te levando em segredo...
Tiago Bettencourt
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Vou-te levando em segredo
por esses lugares que o medo
nem sequer conhece, e onde
tudo aquilo que acontece
é apenas o que ousámos sonhar
É um espaço de danças, onde
os pés se trocam pelo vento
e onde as tuas mãos (que são minhas)
voam como andorinhas perdidas
pelo Tejo em tardes de nevoeiro
Vamos quebrando grilhetas, cruzando
ruas onde perdemos a razão; procurando,
talvez, encontrar esse perdido coração
que já não pulsa por nem saber sequer
o que é uma mera pulsação
Tudo isto são histórias nunca
contadas, pedaços de faca que cortam
a memória em pedaços, e no fundo não
passam de estilhaços que vão ficando
por aí, perdidos...
Por ti perdi os sentidos, caí morto
ao chão, rendi-me na fronteira francesa
e fui Napoleão sem ter terra; peguei no
meu cavalo, agarrei-me ao canhão, venci
as batalhas e por fim...ganhei a guerra.
abrindo e fechando em abraços
aos poucos por dentro uma luz, clareando os teus passos
agora já sabes o quanto te dobra o lado errado do peito
agora já sentes o quanto me deixas desfeito
Sei que não dizes, que trazes o medo...
...mas posso guardar-te o segredo
Como dois barcos perdidos no tempo
que juntam as velas e chamam o vento
foste deixando as pontas dos dedos, largar-te do porto
agora já sonhas em navegar, mais perto do dia que vemos
agora é difícil não desdobrar, o que temos
Sei que não dizes que gostas do medo...
...vou desvendar-te o segredo
Agora já sabes, o quanto nos quebra, nos corre,
nos cerca e dispara de perto
agora já sentes quanto o errado, está certo
Sabes do perigo?
pode ser cedo...
Vou-te levando em segredo...
vou-te levando em segredo...
Tiago Bettencourt
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Vou-te levando em segredo
por esses lugares que o medo
nem sequer conhece, e onde
tudo aquilo que acontece
é apenas o que ousámos sonhar
É um espaço de danças, onde
os pés se trocam pelo vento
e onde as tuas mãos (que são minhas)
voam como andorinhas perdidas
pelo Tejo em tardes de nevoeiro
Vamos quebrando grilhetas, cruzando
ruas onde perdemos a razão; procurando,
talvez, encontrar esse perdido coração
que já não pulsa por nem saber sequer
o que é uma mera pulsação
Tudo isto são histórias nunca
contadas, pedaços de faca que cortam
a memória em pedaços, e no fundo não
passam de estilhaços que vão ficando
por aí, perdidos...
Por ti perdi os sentidos, caí morto
ao chão, rendi-me na fronteira francesa
e fui Napoleão sem ter terra; peguei no
meu cavalo, agarrei-me ao canhão, venci
as batalhas e por fim...ganhei a guerra.
segunda-feira, 13 de abril de 2009
Fado Morto
Rolam pedras pela rua
Rolam corpos pelo chão
E a verdade mais nua
Rola por sobre um caixão
Tudo anda em andanças
Que o mundo sobrevoa
Andam bodes de tranças
A pairar por Lisboa
E os mochos dos conventos
Piam à imagem da lua
São como os cataventos
Que beijam as pedras da rua
E o moínho desmantelado
Cai, enfim, por terra
É como se fosse um fado
Que morre logo á nascença.
Rolam corpos pelo chão
E a verdade mais nua
Rola por sobre um caixão
Tudo anda em andanças
Que o mundo sobrevoa
Andam bodes de tranças
A pairar por Lisboa
E os mochos dos conventos
Piam à imagem da lua
São como os cataventos
Que beijam as pedras da rua
E o moínho desmantelado
Cai, enfim, por terra
É como se fosse um fado
Que morre logo á nascença.
sexta-feira, 10 de abril de 2009
Em Breve...
"...e ficam desde já a saber as três que sei perfeitamente o que cada uma de vocês procura, e aqui não vão encontrar nada, percebem? Nada! Estou velho mas não estou louco nem senil, e não é por já ter de comprar uma arrastadeira que vocês vão dar cabo de mim, ah isso não! Estou aqui para as curvas, se forem poucas obviamente, e vão ter de levar comigo até Deus me querer junto dele, infelizmente, para vocês, como sou mau como às cobras e uma víbora do pior ele vai manter-me aqui na Terra durante muito tempo. Cadelas! Sim, vocês não passam de cadelas tinhosas e nem filhos têem que vos possam mamar nas tetas! Não façam essa cara de virgens púdicas porque púdicas não sabem ser e virgens nunca foram. Vocês são como a vossa mãe, aquela era vaca que não tinha cornos, não sabia o que queria da vida, andava para aqui ao Deus dará sem destino certo, e claro que acabou com a tromba enfiada num muro, com certeza...estão a olhar com essa cara de aventesmas porquê? Nunca me viram, foi? Também não fui eu que vos chamei, como vocês sabem...decidiram as três vir ao mesmo tempo mal souberam que eu andava um pouco mal de saúde, pois sabem qual foi o mal? Ser o vosso número aquele que está no Centro de Saúde, nunca devia era ter dado número nenhum, assim deixavam-me morrer em paz e não ter de levar com vocês nos meus últimos momentos de vida...pensam o quê? Que agora que me vieram visitar isto vai ser uma festa? Que vamos ser amigos? Sou vosso avô apenas de sangue, nada mais nos une...e se pensam que vamos andar contentes, desenganem-se! A desgraça só agora começou...
Prelúdio do que virá a ser uma peça a estrear em breve
Prelúdio do que virá a ser uma peça a estrear em breve
quinta-feira, 9 de abril de 2009
Pedra Filosofal (a minha)
Um dia a pedra fisolosofal quebrou-se
e os seus estilhaços demoraram séculos
a fazerem-se poeira...choraram todas as
outras pedras por terem perdido a sua mãe,
como se ficassem órfãs da alegria e apenas
lhes restasse a tristeza como companheira;
foi a manhã mais negra de que há memória e
quando todos pensavam que se ia gritar "adeus
tristeza, até depois" nada mais se ouviu, só
esse silêncio que fica por entre nós quando
tudo desaparece e apenas ficam pequenas pedras
por aí...perdidas...até alguém as encontrar.
e os seus estilhaços demoraram séculos
a fazerem-se poeira...choraram todas as
outras pedras por terem perdido a sua mãe,
como se ficassem órfãs da alegria e apenas
lhes restasse a tristeza como companheira;
foi a manhã mais negra de que há memória e
quando todos pensavam que se ia gritar "adeus
tristeza, até depois" nada mais se ouviu, só
esse silêncio que fica por entre nós quando
tudo desaparece e apenas ficam pequenas pedras
por aí...perdidas...até alguém as encontrar.
terça-feira, 7 de abril de 2009
Dúvidas Nocturnas
Não me respondes nestas noites
em que não te vejo e dou largas
à imaginação sem saber o que fazes
Posso dizer que não me preocupo
mas tu sabes aquilo que vai em mim
e todos os pensamentos que nascem
Tento, em vão, imaginar o que pode
acontecer e hesito por momentos, sem
saber se deva ou não pensar...
Deixo-me estar e espero que o dia nasça,
não tardará muito e as respostas todas
surgirão com o sol que volta a aparecer.
em que não te vejo e dou largas
à imaginação sem saber o que fazes
Posso dizer que não me preocupo
mas tu sabes aquilo que vai em mim
e todos os pensamentos que nascem
Tento, em vão, imaginar o que pode
acontecer e hesito por momentos, sem
saber se deva ou não pensar...
Deixo-me estar e espero que o dia nasça,
não tardará muito e as respostas todas
surgirão com o sol que volta a aparecer.
segunda-feira, 6 de abril de 2009
Quanto, Quanto Me Queres
Quanto, quanto me queres?- perguntaste
Olhando para mim mas distraída;
E quando nos meus olhos te encontraste,
Eu vi nos teus a luz da minha vida.
Nas tuas mãos, as minhas, apertaste.
Olhando para mim como vencida,
"...quanto, quanto..." - de novo murmuraste
E a tua boca deu-se-me rendida!
Os nossos beijos longos e anciosos,
Trocavam-se frementes! - Ah! ninguém
Sabe beijar melhor que os amorosos!
Quanto te quero?! - Eu posso lá dizer!...
- Um grande amor só se avalia bem
Depois de se perder.
António Botto
Olhando para mim mas distraída;
E quando nos meus olhos te encontraste,
Eu vi nos teus a luz da minha vida.
Nas tuas mãos, as minhas, apertaste.
Olhando para mim como vencida,
"...quanto, quanto..." - de novo murmuraste
E a tua boca deu-se-me rendida!
Os nossos beijos longos e anciosos,
Trocavam-se frementes! - Ah! ninguém
Sabe beijar melhor que os amorosos!
Quanto te quero?! - Eu posso lá dizer!...
- Um grande amor só se avalia bem
Depois de se perder.
António Botto
Camarim da Saudade
Fazes parte do meu espectáculo
e és um refúgio; o camarim para onde corro
sempre que o espectáculo acaba e me julgo
a pessoa mais vulgar deste mundo...
Mas junto a ti somos dama e vagabundo
encostados numa mesa qualquer a comer
estrelas com uma colher sem ver passar
o tempo
A noite não tem fim, pelo menos para
mim que não vejo o tempo a passar
e sei apenas que quando acordar
o sonho vai-se manter até eu me levantar
e o teu rosto conseguir ver
Nesse momento eu sinto-me imobilizar,
e paro em ti, a fixar esse teu olhar
onde me perco e me vou a encontrar
julgando, talvez, ao ver-te, que nunca
mais algo assim me vai acontecer
És um aplauso que tem eco em mim,
e eu ao encontrar-te perco-me assim, neste
modo de ser desencontrado, pois estando contigo
estou em todo o lado, perdendo-me para ser
encontrado
Ninguém é perfeito, e nos teus erros
eu encontro a verdade escondida por
todos aqueles que se julgam altos e não
sabem ver que a vida é uma sucessão de erros
remediáveis; também eu por vezes faço um
remendo nos teus actos, como se fossemos cenas
sem sobressaltos num palco qualquer...
Perdoei o teu erro, pois repito que ninguém
é perfeito e ainda não nasceu esse ser eleito
que virá à terra para não errar; somos humanos,
está no nosso sangue errar e talvez, de vez em quando,
acertar em algumas questões universais
Vejo-te para lá dos vitrais, como se fosses
catedral, um país que inventei (talvez Portugal)
e que desenho a cada folha que por mim passa
Esta noite perco-me contigo, e amanhã sei
que também me vou perder, pois apenas contigo
ao lado posso encontrar o caminho nunca encontrado
e descobrir novos caminhos para a Índia
Faço de ti especiaria, e a minha felicidade
não passa da alegria de amanhã saber que vais
continuar a estar aqui, e eu parado a olhar para ti
vou continuar a inventar estradas onde me possa
perder, só assim faz sentido viver...tendo caminho para
andar e nunca saber onde ir ter
Sei para onde vou, não fica longe daqui...
4680E...e sou feliz.
e és um refúgio; o camarim para onde corro
sempre que o espectáculo acaba e me julgo
a pessoa mais vulgar deste mundo...
Mas junto a ti somos dama e vagabundo
encostados numa mesa qualquer a comer
estrelas com uma colher sem ver passar
o tempo
A noite não tem fim, pelo menos para
mim que não vejo o tempo a passar
e sei apenas que quando acordar
o sonho vai-se manter até eu me levantar
e o teu rosto conseguir ver
Nesse momento eu sinto-me imobilizar,
e paro em ti, a fixar esse teu olhar
onde me perco e me vou a encontrar
julgando, talvez, ao ver-te, que nunca
mais algo assim me vai acontecer
És um aplauso que tem eco em mim,
e eu ao encontrar-te perco-me assim, neste
modo de ser desencontrado, pois estando contigo
estou em todo o lado, perdendo-me para ser
encontrado
Ninguém é perfeito, e nos teus erros
eu encontro a verdade escondida por
todos aqueles que se julgam altos e não
sabem ver que a vida é uma sucessão de erros
remediáveis; também eu por vezes faço um
remendo nos teus actos, como se fossemos cenas
sem sobressaltos num palco qualquer...
Perdoei o teu erro, pois repito que ninguém
é perfeito e ainda não nasceu esse ser eleito
que virá à terra para não errar; somos humanos,
está no nosso sangue errar e talvez, de vez em quando,
acertar em algumas questões universais
Vejo-te para lá dos vitrais, como se fosses
catedral, um país que inventei (talvez Portugal)
e que desenho a cada folha que por mim passa
Esta noite perco-me contigo, e amanhã sei
que também me vou perder, pois apenas contigo
ao lado posso encontrar o caminho nunca encontrado
e descobrir novos caminhos para a Índia
Faço de ti especiaria, e a minha felicidade
não passa da alegria de amanhã saber que vais
continuar a estar aqui, e eu parado a olhar para ti
vou continuar a inventar estradas onde me possa
perder, só assim faz sentido viver...tendo caminho para
andar e nunca saber onde ir ter
Sei para onde vou, não fica longe daqui...
4680E...e sou feliz.
domingo, 5 de abril de 2009
Puro Teatro
Só te queria dizer que estou grávida, mas tu decidiste fugir com a cadela tinhosa com que agora andas...podias ter ouvido aquilo que eu tinha para te dizer, não ia pedir-te ajuda nem nada disso, apenas queria que me ouvisses por uma vez mais na tua vida. O que eu tive de aturar por tua culpa, o que eu tive de ver e viver...apareceu-me cá a louca com que andavas, não bastava ter conhecido o teu filho (que até nem é mau rapaz, diga-se de passagem) e ainda me apareceu esta vaca acabada de sair dos anos sessenta, só lhe faltava os rolos na cabeça, de resto ela tinha tudo. Como é que podeste ter mulheres tão diferentes? Como é que consegues? Nem menciono essa feminista que andas agora a comer desalmadamente e com quem vais fugir para Estocolmo, o que é que tu viste nela? Parece uma cadela prenha, juro pela minha vida que parece. Eu não tinha nada a ver com elas...desculpa, mas é verdade! Já deves ir longe a esta hora, infelizmente tenho a televisão para me lembrar de ti a cada instante, não existiu homem que tivesse dado mais voz a anúncios do que tu, ainda parece que estás em todo o lado. Um dia tenta encontrar-te comigo, só para conheceres o teu filho, isto se o quiseres conhecer porque se não quiseres também escusas de me voltar a aparecer à frente, já bem basta o que fiz à minha casa por tua culpa, queimei o colchão, parti uma janela...da única coisa que não tiveste culpa foi da vinda da Candela, mas essa também aparece sempre sem avisar e com o dobro dos problemas que eu tenho; quem é a mulher que se mete com terroristas xiitas? Só uma louca...também agora já está nos braços do Carlos e nem se deve lembrar desse episódio. Só sobrei eu para juntar as peças todas, como se isto tudo se tivesse passado num palco, como se fossem várias cenas e fizessem puro teatro...
"Fue tu mejor actuación...destrozar mi
corazón, y hoy que me lloras de veras,
recuerdo tu simulacro. Perdona que no te
crea, me parece que es teatro.
Y acuérdate que según tu ponto de vista
yo soy la mala.
Teatro lo tu yo es puro teatro, falsedad
bien ensayada, estudiado simulacro."
A partir de "MULHERES À BEIRA DE UM ATAQUE DE NERVOS" de Pedro Almodóvar
"Fue tu mejor actuación...destrozar mi
corazón, y hoy que me lloras de veras,
recuerdo tu simulacro. Perdona que no te
crea, me parece que es teatro.
Y acuérdate que según tu ponto de vista
yo soy la mala.
Teatro lo tu yo es puro teatro, falsedad
bien ensayada, estudiado simulacro."
A partir de "MULHERES À BEIRA DE UM ATAQUE DE NERVOS" de Pedro Almodóvar
sexta-feira, 3 de abril de 2009
Mascarada
Vi a grande mascarada
Que existe no mundo a rodos
Escondendo a cara envergonhada
Que envergamos nós todos
A nossa cara já encobrida
Pela fome de nos escondermos
Não deixando ver a própria vida
Nesses limos onde nos perdemos
Caem máscaras pelo chão
Mas mantemos a fronte erguida
Porque mesmo na perdição
Há sempre um rasto de vida.
Que existe no mundo a rodos
Escondendo a cara envergonhada
Que envergamos nós todos
A nossa cara já encobrida
Pela fome de nos escondermos
Não deixando ver a própria vida
Nesses limos onde nos perdemos
Caem máscaras pelo chão
Mas mantemos a fronte erguida
Porque mesmo na perdição
Há sempre um rasto de vida.
quarta-feira, 1 de abril de 2009
Quero
Quero morrer nesses braços de veludo
que já me prendem há tanto tempo...
Quero ser a amarra desse barco
que teima sempre em partir mas não desaparece...
Quero ser aquela rua pisada
que toda a gente conhece mas ninguém visita...
Quero ser a solidão parada
que têm todas as horas do alvorecer...
Quero ser a vida em movimento
que é o maior tormento que pode ter o homem...
Quero ser esse sonho
que voa por aí até alguém o atirar ao chão...
Quero ser tudo aquilo que nunca fui
para talver conseguir ser o que sou.
que já me prendem há tanto tempo...
Quero ser a amarra desse barco
que teima sempre em partir mas não desaparece...
Quero ser aquela rua pisada
que toda a gente conhece mas ninguém visita...
Quero ser a solidão parada
que têm todas as horas do alvorecer...
Quero ser a vida em movimento
que é o maior tormento que pode ter o homem...
Quero ser esse sonho
que voa por aí até alguém o atirar ao chão...
Quero ser tudo aquilo que nunca fui
para talver conseguir ser o que sou.
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