tag:blogger.com,1999:blog-15543640179544909302024-02-08T07:55:26.817-08:00Camarim da SaudadeCamarim da saudade...sítio dos poetas e das palavras escondidas, onde as emoções cantam o fado da saudade que se agarra à pele.Renato Silvahttp://www.blogger.com/profile/11166640658963319309noreply@blogger.comBlogger347125tag:blogger.com,1999:blog-1554364017954490930.post-17348766165426764392011-03-31T08:26:00.000-07:002011-03-31T08:36:11.108-07:00Apanhava chuva com as mãos como quem colhe a terra que não é sua. Algumas gotas fugiam-lhe entre os dedos e ele ainda se ajoelhou a ver se conseguia salvar alguma gota mais rebelde, mas mal caíam no chão transformavam-se numa pequena poça, e essa já não lhe pertencia, era da terra (da sua terra). Esperava ver o sol aparecer de qualquer lado, mas a sua vista não avistava mais que nuvens, e todas elas juntas, como se tivessem combinado um piquenique para o qual ele não fora convidado. Gostaria de namorar com uma nuvem. Uma daquelas que anda sempre de um lado para o outro, e quanto mais nos aproximamos, mais longe ela está de nós. Um constante jogo entre o rato e o gato, uma metáfora para a vida, a sua vida. Trilhou caminhos que não eram seus e foi dar a ruas que não conhecia. Encontrou-se nos lugares mais inusitados e nunca conseguiu ver a sua imagem, por muito que a procurasse. Onde andaria a sua cara? O seu rosto? Perdido ou encontrado? Talvez diferente, e de tão diferente ele nem se conhecia. Perdeu-se no lugar onde nunca se encontrou e agora deambulava à procura daquilo que não fora. Não chorava porque isso seria demasiado óbvio e a situação não pedia tal sentimento, apenas um leve franzir da sobrancelha, apenas um leve toque nos seus olhos, prontos a entornarem água e a unirem-se com a chuva (mas sem nunca o fazerem).Renato Silvahttp://www.blogger.com/profile/11166640658963319309noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1554364017954490930.post-32295529879347407332011-03-28T18:40:00.000-07:002011-03-28T18:43:57.562-07:00Falar do passado é escrever o futuro que se constrói nas nossas mãos, por dentro de nós. A recordação daquilo que flui nas margens do nosso tempo e que nunca mais desagua em local algum que não a nossa mente. A construção do ser humano enquanto memória colectiva daquilo que foi e daquilo que nunca será. A construção de um tempo que não é nosso mas de um todo, de um colectivo. O sentir que fazemos parte de uma sociedade que não tem mais para dar do que aquilo que já nos deu, e que, afinal, foi tão pouco. A construção do mito como arma momentânea, que ataca tudo aquilo que está à sua volta. A construção da utopia como aquilo que fomenta toda a fome do mundo, talvez o pensamento numa fonte feita de utopia, com a graça da utopia, o seu aroma. Falar do passado como aquilo que flui por entre o futuro. Como as margens do tempo.Renato Silvahttp://www.blogger.com/profile/11166640658963319309noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1554364017954490930.post-41699281017287076322011-03-04T18:14:00.000-08:002011-03-04T18:25:06.587-08:00Mãos Cheias de NadaTrazias as mãos cheias de nada<br />E as minhas mostravam-se vazias<br />Como aquela amarga madrugada<br />Onde matámos as nossas agonias<br /><br />Nascemos do sonho já desfeito<br />Das quimeras por inventar<br />Tal qual aquele nevoeiro<br />Que encobria o nosso olhar<br /><br />E abertos os corpos à tempestade<br />Aberto o coração ao nosso passado<br />Renascemos hoje de uma saudade<br />Que tem na boca um gosto a fado.Renato Silvahttp://www.blogger.com/profile/11166640658963319309noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1554364017954490930.post-86040080598511866052011-02-19T18:05:00.000-08:002011-02-19T18:08:52.921-08:00Hoje Canto o FadoPeço perdão à tristeza<br />E ponho sobre a mesa<br />O vinho duma velha amizade<br />Percorro ruas e avenidas<br />Em busca de velhas cantigas<br />Com gosto de saudade<br /><br />Passo pela rua da amargura<br />Recordo o fado loucura<br />Que percorre as minhas veias<br />Entro logo no corrido<br />Para ganhar outro sentido<br />Limpo as minhas velhas teias<br /><br />Afasto do meu coração<br />Vestígios de uma paixão<br />Que percorre o meu passado<br />Do futuro faço uma estrada<br />Mesmo que não dê em nada<br />Hoje eu vou cantar o fado.Renato Silvahttp://www.blogger.com/profile/11166640658963319309noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1554364017954490930.post-36735961323352466122011-02-05T17:21:00.000-08:002011-02-05T17:22:37.793-08:00E passado um mês, voltei.<br />Ainda não sei o que vou escrever, o que me apetece dizer.<br />Sei que tinha de voltar a este espaço tão meu e arrumar este camarim por mais uns tempos.Renato Silvahttp://www.blogger.com/profile/11166640658963319309noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1554364017954490930.post-32545583331746546562010-12-30T13:05:00.000-08:002010-12-30T13:20:30.099-08:00Velhos do ResteloImaginemos que escrevia o mais belo texto deste ano, não só o meu melhor texto, mas um daqueles que se poderiam classificar como um dos grandes textos do ano. Claro que este é apenas um exercício de imaginação, nunca um texto desses me saíria das mãos e muito menos no final de um ano como este. Um ano de metas, de fins de percursos e início de outros. O final do ano é um tempo de balanços, um tempo de recordar aquilo que ficou para trás, e pior do que isso, aquilo que poderia ter ficado para trás e que nunca chegou a ser feito. As lágrimas nunca contam para estes balanços, esses momentos costumam-se ir diluindo na nossa memória, até já não os conseguirmos distinguir. Será isto verdadeiro? Alguém esquece as lágrimas que chrou? Durante este ano ou em qualquer outro? Mais facilmente lembramos as lágrimas que deitámos do que os risos que povoaram a nossa cara em alguns instantes. Obviamente que existem momentos inesquecíveis, que nos preencheram, que nos fizeram sentir vivos, e outros de uma angústia enorme, como se estivéssemos num beco que, embora sabendo que não tem saída, continuamos a querer seguir, porque às vezes o nosso único caminho é contra o muro. Quantas vezes vamos contra o muro e batemos com a cabeça nesse mesmo muro? E o que dizer do nosso próprio muro? Das nossas próprias barreiras? Daquilo que temos na nossa cabeça e que teima em não sair, as ideias pré-concebidas? Gostávamos de poder ir contra isso tudo, construir novas ideias, principalmente acerca daquilo que nós somos mas... falta sempre um pouco de coragem, ambição. Deixámos de ser ambiciosos há muito tempo, encostámo-nos ao fado que é nosso e nada mais. Somos todos uns velhos do Restelo à procura de gaivotas brancas, mas até aquelas que voam por sobre o Tejo, vêm repletas de petróleo nas suas asas. Vivemos um tempo manchado, onde o branco não consegue sobressair e as cores mais escuras tomam conta do espaço, do nosso próprio espaço. Existe em nós um medo de existir, de sermos gente. Perdemo-nos na nossa memória colectiva, por entre aquilo que fomos e o que gostaríamos de ter sido. Perdemos a utopia que nunca concretizá-mos, e pior: nunca a chegaremos a concretizar porque já ninguém se lembra dela. Vivemos um tempo em que os horizontes deixaram de ser longínquos, pura e simplesmente já não existem horizontes. Vivemos o hoje e o agora, apenas isso, isso é o que importa. E contudo... o ontem. O ontem assalta-nos constantemente, aquilo que fizemos ontem (nem volto a falar do que não fizemos), mas aqueles momentos que nos marcaram a pele, o sangue, as veias do corpo. O que fazer para recuperar os momentos perdidos? O que fomos? O que é preciso oferecer para voltar atrás? As memórias vivem em nós como seres vivos que teimam em reproduzir-se, e nós não as matamos, deixamos que elas cresçam, tal como nós também crescemos.<br />Queria ter escrito um bonito texto no final de mais um ano, um texto positivo, que falasse de um amanhã diferente, mas a única diferença será o fogo de artifício que irá romper pelos nossos céus. Enquanto não rebentarem foguetes em nós, tudo isto vai continuar igual ao que é. Façamos a festa por dentro de nós, comecemos de novo, amanhã... já amanhã.<br /><br /><em>É para amanhã</em><br /><em>bem podias fazer hoje...</em>Renato Silvahttp://www.blogger.com/profile/11166640658963319309noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1554364017954490930.post-4434193264074075252010-12-19T17:07:00.000-08:002010-12-19T17:09:01.002-08:00História de Natal (I)Em poucas linhas, deixo aqui retratada a história mais triste deste Natal.<br /><br />Uma pobre menina chegou perto de seu pai.<br />Com olhos de carneiro mal morto disse-lhe:<br />- Meu pai, meu tudo. Aqui tens um sonho que te entrego.<br /><br />O pai, com um total desprendimento perante o presente de sua filha...<br />... comeu o sonho.Renato Silvahttp://www.blogger.com/profile/11166640658963319309noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1554364017954490930.post-23898647860642491332010-12-15T05:25:00.000-08:002010-12-15T05:30:48.272-08:00Maus Tempos<em>O sol bateu-me no rosto</em><br /><em>O vento quis empurrar-me</em><br /><em>E a chuva molhou-me aos poucos</em><br /><em>Brincadeiras de mau gosto</em><br /><em>Com seu motivo de alarme</em><br /><em>Para eu me livrar de loucos</em><br /><em></em><br /><em>O sol queimou as searas</em><br /><em>O vento arrasou pinheiros</em><br /><em>E a chuva alagou a terra</em><br /><em>Turvaram as águas claras</em><br /><em>Só vejo tristes madeiros</em><br /><em>Tenho que fugir da serra</em><br /><em></em><br /><em>Fiquei sem o meu rebanho</em><br /><em>Perdi o meu belo arado</em><br /><em>Tombou meu lindo moínho</em><br /><em>E em busca dum mundo estranho</em><br /><em>Levo o meu duro cajado</em><br /><em>Para me abrir o caminho</em><br /><em></em><br /><em>No meu saco de lembranças</em><br /><em>Levo sorrisos, esperanças</em><br /><em>Duma ingénua mocidade</em><br /><em>E ao despedir-me depois</em><br /><em>Um velho carro de bois</em><br /><em>Carrega a minha saudade.</em><br /><em></em><br /><strong>Frederico de Brito</strong>Renato Silvahttp://www.blogger.com/profile/11166640658963319309noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1554364017954490930.post-39540913536095088432010-12-14T16:50:00.000-08:002010-12-14T16:53:54.868-08:00Talvez Por AcasoTu dizes que a culpa é minha<br />Eu acho que a culpa é tua<br />E vamos ficando assim<br />Até que um dia à tardinha<br />Por acaso numa rua<br />Tu hás-de passar por mim<br /><br />Com rancor e azedume<br />Sem razão e sem emenda<br />Talvez a gente se insulte<br />Ou então, contra o costume<br />Talvez a gente se entenda<br />E o caso resulte<br /><br />Por acaso, sem querer<br />Quem sabe se é dessa vez<br />Que nós fazemos as pazes<br />Possa o acaso fazer<br />O que a saudade não fez<br />E nós não fomos capazes<br /><br />A vida dá-nos sinais<br />Quanto mais o tempo passa<br />De que o amor tem um prazo<br />Por isso nunca é demais<br />O que quer que a gente faça<br />Para provocar o acaso.<br /><br /><strong>Manuela de Freitas</strong>Renato Silvahttp://www.blogger.com/profile/11166640658963319309noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1554364017954490930.post-62344955593880739202010-12-14T16:37:00.000-08:002010-12-14T16:41:27.524-08:00A Tua Sorte<em>Partiste num dia de tempestade</em><br /><em>Deixando apenas por lembrança</em><br /><em>Aquela meiga e terna saudade</em><br /><em>Que nasce quando morre a esperança</em><br /><em></em><br /><em>Memórias, não sei onde as guardaste</em><br /><em>Em mim não ficou nem uma história</em><br /><em>Tudo o que fizemos, em vão levaste,</em><br /><em>Talvez para construir a tua glória</em><br /><em></em><br /><em>Pois tudo o que foi nosso, que seja teu</em><br /><em>Para mim, afinal, já nada importa</em><br /><em>Em mim não deixaste nada de meu</em><br /><em>Não voltes a bater à minha porta</em><br /><em></em><br /><em>Lágrimas - também não irei chorar</em><br /><em>A saudade em mim tem o fim da morte</em><br /><em>E se hoje continuo a cantar</em><br /><em>É porque não me entreguei à tua sorte.</em>Renato Silvahttp://www.blogger.com/profile/11166640658963319309noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1554364017954490930.post-50054373864556583752010-11-29T17:19:00.002-08:002010-11-29T17:21:28.018-08:00Uma revolução tem de ter sangue, se o não tiver... bem, aí temos o resultado 36 anos depois.Renato Silvahttp://www.blogger.com/profile/11166640658963319309noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1554364017954490930.post-83113179404389809222010-11-29T17:19:00.000-08:002010-11-29T17:21:26.394-08:00Uma revolução tem de ter sangue, se o não tiver... bem, aí temos o resultado 36 anos depois.Renato Silvahttp://www.blogger.com/profile/11166640658963319309noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1554364017954490930.post-68357064353851356072010-11-24T13:25:00.001-08:002010-11-24T13:28:09.673-08:00Mãos Desencontradas<em>Na memória não me escondas</em><br /><em>Ouve a grandeza das ondas</em><br /><em>Que por nós foram quebradas</em><br /><em>Naufragámos sem passado</em><br /><em>Nesse encontro desejado</em><br /><em>Entre as mãos desencontradas</em><br /><em></em><br /><em>Se a lembrança nos condena</em><br /><em>Se por nós não vale a pena</em><br /><em>Mais alguém ficar ausente</em><br /><em>Sem pecado e sem demora</em><br /><em>Esqueceremos vida fora</em><br /><em>Tudo aquilo que é presente</em><br /><em></em><br /><em>Numa noite cega e fria</em><br /><em>Quando a chuva esquece o dia</em><br /><em>E a madrugada é constante</em><br /><em>Junto a quem nunca perdi</em><br /><em>Hoje sei que não esqueci</em><br /><em>Quem de mim ficou distante.</em><br /><em></em><br /><strong>Aldina Duarte</strong>Renato Silvahttp://www.blogger.com/profile/11166640658963319309noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1554364017954490930.post-67176336880667379122010-11-22T04:31:00.000-08:002010-11-22T04:34:44.508-08:00Quando Vieres Logo À Noite<em>quando vieres logo à noite</em><br /><em>rosto aberto e desejado</em><br /><em>embora não vendas tudo</em><br /><em>ao coração sem mercado</em><br /><em>adianta-me o silêncio</em><br /><em>que faz brisa ao pé do mar</em><br /><em>para eu estar prevenido</em><br /><em>quando o silêncio chegar</em><br /><em></em><br /><em>depois na feira dos olhos</em><br /><em>que tanta poeira fazem</em><br /><em>como quem vende bondade</em><br /><em>às sombras da vadiagem</em><br /><em>adianta-me a tristeza</em><br /><em>sob as tranças do luar</em><br /><em>para eu estar prevenido</em><br /><em>quando a tristeza chegar</em><br /><em></em><br /><em>e se puseres tuas mãos</em><br /><em>nesta varanda inquieta</em><br /><em>de tanto ouvir a distância</em><br /><em>das palavras do poeta</em><br /><em>adianta-me a saudade</em><br /><em>do teu corpo sem lugar</em><br /><em>para eu estar prevenido</em><br /><em>quando a saudade chegar.</em><br /><em></em><br />Actor como todos nós,<br />poeta como poucos o foram...<br /><strong><em>Vasco de Lima Couto</em></strong>Renato Silvahttp://www.blogger.com/profile/11166640658963319309noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1554364017954490930.post-66909810527996977262010-11-20T07:56:00.000-08:002010-11-20T07:59:22.322-08:00Corro Para Um TempoCorro para um tempo que já não é meu<br />Corro para uma vida que não sei contar<br />Perdeu-se tudo aquilo que morreu<br />Nas cinzas de um fogo por atear<br /><br />Corro para a viela mais sombria<br />Para um amanhecer que nunca vem<br />E morro entre as grades com que a alegria<br />Cercou a minha alma, feita desdém<br /><br />Corro para as memórias já vencidas<br />Para um tempo de futuro iluminado<br />E encontro a minha vida entre as vidas<br />Que construíram este meu fado.Renato Silvahttp://www.blogger.com/profile/11166640658963319309noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1554364017954490930.post-32317476517762523092010-11-19T10:41:00.000-08:002010-11-19T10:44:19.868-08:00Motivo de Fadofala-me da hora<br />d'outrora<br />que eu perdi a viagem<br />não sei onde deixei<br />aquilo que amei<br />a minha bagagem<br /><br />diz-me qual a direcção<br />diz-me por onde seguir<br />porque eu estou perdido<br />no meu sentido não há<br />direcção por onde ir<br /><br />perdi a rota do coração<br />e sei lá onde vou dar<br />não aprendi a lição<br />e não me sei encontrar<br /><br />perdi toda a minha saudade<br />também ela anda perdida<br />procuramo-nos na cidade<br />mas nem encontramos a vida<br /><br />andamos os dois<br />num destino desencontrado<br />e o que virá depois<br />é talvez um motivo para fado.Renato Silvahttp://www.blogger.com/profile/11166640658963319309noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1554364017954490930.post-20918636466448030542010-11-18T08:28:00.000-08:002010-11-18T08:32:45.281-08:00Olhar MaliciosoPassa por mim na rua do esquecimento<br />E tenta que eu não encontre os teus passos<br />Porque aquele que é o meu maior tormento<br />Nasceu no fogo quente dos teus abraços<br /><br />Quero esquecer que um dia, o teu corpo<br />Foi para mim a praia mais desejada<br />Antes tivesse sentido o tempo morto<br />A beijar-me na hora mais calada<br /><br />Preferia o velho beijo que a morte<br />Guarda quando nos vem buscar,<br />Do que estar entregue à triste sorte<br />Do teu malicioso e lindo olhar<br /><br />Deixa-me na lembrança pouco mais que nada<br />Deixa-me no esquecimento aquilo que eu esqueci<br />E diz-me que a nossa vida não foi quebrada<br />Por causa de tudo aquilo que não vivi.Renato Silvahttp://www.blogger.com/profile/11166640658963319309noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1554364017954490930.post-60105851935145227852010-11-15T16:35:00.000-08:002010-11-15T16:38:11.265-08:00Triste Sorte<em>Ando na vida à procura</em><br /><em>De uma noite menos escura</em><br /><em>Que traga luar ao céu</em><br /><em>De uma noite menos fria</em><br /><em>Em que não sinta a agonia</em><br /><em>De um dia a mais que morreu</em><br /><em></em><br /><em>Vou cantando amargurado</em><br /><em>Mais um fado e outro fado</em><br /><em>Que fala de um fado meu</em><br /><em>Meu destino assim cantado</em><br /><em>Jamais pode ser mudado</em><br /><em>Porque do fado sou eu</em><br /><em></em><br /><em>Ser fadista é triste sorte</em><br /><em>Que nos faz pensar na morte</em><br /><em>E em tudo o que em nós morreu</em><br /><em>É andar na vida à procura</em><br /><em>De uma noite menos escura</em><br /><em>Que traga luar ao céu.</em><br /><em></em><br /><strong>João Ferreira-Rosa</strong>Renato Silvahttp://www.blogger.com/profile/11166640658963319309noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1554364017954490930.post-8920788814827649142010-11-14T18:31:00.000-08:002010-11-14T18:36:25.585-08:00Fado InventadoTalvez nos encontremos no fim de tarde<br />Que a nossa memória possa construir<br />Talvez que a nossa velha saudade<br />Já não possa olhar para nós e sorrir<br /><br />Porque o sorriso, por vezes, é falsidade<br />E esconde aquilo que o coração quer<br />Nem sempre a boca traz a verdade<br />Que existe no corpo de uma mulher<br /><br />Talvez que um dia o tempo seja nosso<br />E as marés tragam o mar de outra praia<br />Por enquanto, meu amor, ainda não posso<br />Beijar a fímbria da tua antiga saia<br /><br />Talvez que a memória seja o rasto<br />Que deixamos para um novo amanhã<br />Talvez o tempo seja tão casto<br />Que goste de renascer a cada manhã<br /><br />Talvez que tudo isto seja inventado<br />E nada, afinal, faça sentido<br />Talvez seja motivo para o fado<br />Que nasce do nosso canto já vencido.Renato Silvahttp://www.blogger.com/profile/11166640658963319309noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1554364017954490930.post-2570123836655153492010-11-11T18:07:00.000-08:002010-11-11T18:10:23.585-08:00Passemos, tu e eu, devagarinho<em>Passemos, tu e eu, devagarinho,</em><br /><em>Sem ruído, sem quase movimento</em><br /><em>Tão mansos que a poeira do caminho</em><br /><em>A pisemos sem dor e sem tormento</em><br /><em></em><br /><em>Que os nossos corações, num torvelinho</em><br /><em>De folhas arrastadas pelo vento,</em><br /><em>Saibam beber o precioso vinho,</em><br /><em>A rara embriaguez deste momento</em><br /><em></em><br /><em>E se a tarde vier, deixá-la vir</em><br /><em>E se a noite quiser, pode cobrir</em><br /><em>Triunfalmente o céu de nuvens calmas</em><br /><em></em><br /><em>De costas para o sol, então veremos</em><br /><em>Fundir-se as duas sombras que tivemos</em><br /><em>Numa só sombra, como as nossas almas.</em><br /><em></em><br /><strong>Reinaldo Ferreira</strong>Renato Silvahttp://www.blogger.com/profile/11166640658963319309noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1554364017954490930.post-12044153442134225902010-11-10T04:15:00.000-08:002010-11-10T04:20:19.233-08:00Incógnita Variávelrasga esses versos.<br />talvez nunca os tenhas lido<br />se o não fizeste, também não é uma boa altura para o fazeres.<br />às vezes deviamos esquecer aquilo que fizemos, e muito menos escrever sobre aquilo que fazemos, pois nunca sabemos se vamos gostar de reler aquilo que fomos<br />alguns não sabem o que foram<br />muito menos o que serão<br />o futuro é a nossa incógnita variável e pode ir por estradas em que nunca passámos<br />não leias aquilo que fomos<br />esfuma-se da memória os pedaços de vida que fomos deixando por aí<br />desapareceram os aniversários<br />hoje já ninguém faz anos<br />nem temos velas por onde possa soprar o vento do nosso corpo<br />a brisa que existia já não é variável<br />já nem existe uma brisa em nós<br />apenas o leve barulho das folhas que ainda caem<br />não corras para apanhá-las, vão sempre fugir-te das mãos<br />a vida esqueceu-se de traçar o nosso rumo<br />e a palma da nossa mão já não sabe o que há-de dizer-nos<br />desaparecemos por entre o inverno da nossa memória<br />hoje, na nossa cabeça, existe apenas um frio sem agasalho<br />e contudo é outono, novembro voltou,<br />e tudo continua a ir <em>por este rio acima...</em>Renato Silvahttp://www.blogger.com/profile/11166640658963319309noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1554364017954490930.post-4002392598877678162010-11-09T11:37:00.001-08:002010-11-09T11:38:32.650-08:00Não Olhes de Frente Para a Minha Memórianão olhes de frente para a minha memória<br />se a vires passa de lado e não penses, sequer uma vez, em voltar-te para trás<br />entrega ao esquecimento tudo aquilo que não lembramos<br />não vale a pena avivar aquilo que já morreu<br />não voltes a revolver as cinzas de alguma coisa que ardeu e perdeu-se no fogo<br />ateia uma nova fogueira<br />deixa que as chamas cheguem ao céu e construam as estrelas que não soubemos agarrar<br />faz os desenhos da erva no papel já amarelecido pelo tempo<br />constrói o templo onde nunca habitámos<br />isso sim será útil a tudo aquilo que ainda está por vir<br />lembra-te apenas do único erro que não podes cometer<br />não olhes de frente para a minha memória<br />encara-a de soslaio, como algo que nunca existiu<br />finge que não a conheces, ignora-a<br />faz isso por mim, por ti, pelo esquecimento<br />não mexas nessas cinzas<br />ainda queimas as mãos<br />e não deites lágrimas sobre essa velha fogueira<br />ela apaga-se sozinha<br />tal como o esquecimento.Renato Silvahttp://www.blogger.com/profile/11166640658963319309noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1554364017954490930.post-52258448138409636002010-11-08T10:49:00.000-08:002010-11-08T10:52:45.002-08:00Questão de Culpa<em>Que me deixasses só e te afastasses</em><br /><em>Foi o que te pedi, sabe-lo bem,</em><br /><em>E quando me deixasses</em><br /><em>Nem falasses</em><br /><em>Do fim do nosso amor com mais ninguém</em><br /><em></em><br /><em>Mas se andas por aqui como se a vida</em><br /><em>Continuasse a mesma entre nós dois,</em><br /><em>Tristemente iludida</em><br /><em>A despedida,</em><br /><em>Para um adeus cruel, mas só depois...</em><br /><em></em><br /><em>Se é ao banco dos réus que tu me arrastas</em><br /><em>Como se o fim do amor fosse algum crime,</em><br /><em>Se com palavras gastas</em><br /><em>Tu te afastas,</em><br /><em>Mas queres que de ti eu me aproxime</em><br /><em></em><br /><em>É que talvez não saibas que te amei</em><br /><em>E que esse louco amor não continua,</em><br /><em>De tanto que passei</em><br /><em>Desesperei,</em><br /><em>E se a saudade é minha, a culpa é tua.</em><br /><em></em><br />Não resisti a partilhar mais um grande inédito de<br /><strong>Vasco Graça Moura, </strong>este para a voz de<br /><strong>Cristina Nóbrega</strong>Renato Silvahttp://www.blogger.com/profile/11166640658963319309noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-1554364017954490930.post-57843544351340867442010-11-02T19:12:00.000-07:002010-11-02T19:19:05.726-07:00novembrochegámos a novembro e ainda não trincaste as cerejas que deixei sobre a mesa.<br />talvez não voltes para prová-las.<br />tinha deixado a tua música favorita a tocar no velho gira-discos, mas com o passar do tempo, já deves ter outra música de que gostes mais.<br />a fruta vai acabar por apodrecer, e nós iremos com ela.<br />trincámos e não deitámos fora este caroço que ainda está entalado na nossa garganta.<br />podiamos morrer sufocados, talvez tudo o resto fosse mais suportável.<br />não consigo parar de pensar o porquê de estar a chover.<br />novembro é o tempo dos agasalhos e não das chuvas miudinhas.<br />até o tempo se alterou, juntamente com tudo o resto.<br />não fui buscar lenha para a lareira, já não é preciso madeira para nos aquecermos, basta o lume brando que temos debaixo dos nossos pés.<br />estamos queimados por dentro.<br />talvez não haja nada que nos possa salvar deste fogo lento que se apoderou do nosso corpo.<br />estamos a desaparecer, juntamente com a poeira de novembro.<br />por muito que isso que nos custe, é verdade, novembro chegou e leva-nos com as folhas, embala-nos para longe, para onde nunca fomos e de onde nunca poderemos voltar.<br />não chores neste mês.<br />já basta o tempo que teima em secar as lágrimas em nós.<br />muda essa roupa que tens agarrada ao corpo, já não é tempo para ela.<br />talvez ainda sintas o calor de outros tempos mas vais acabar por constipar-te e depois tudo o resto irá parecer-te insuportável.<br />desculpa, não consigo dizer nada conciso e concreto, apenas palavras começadas pela letra c, aparentemente.<br />tropeçámos numa pedra que não vimos.<br />onde está essa pedra? em que parte do caminho? onde a deixámos?<br />morremos no mesmo dia em que viemos ao mundo, disso eu tenho a certeza.<br />a partir do momento em que saímos do ventre materno já nos estávamos a preparar para novembro.<br />e é sempre assim, chega sempre antes do tempo dos sonhos e do bolo-rei.<br />como se fosse uma fatalidade.<br />novembro foi o mês do nosso sangue.<br />o mês em que nos demos ao tempo.<br />e o mês que o tempo não nos soube dar.Renato Silvahttp://www.blogger.com/profile/11166640658963319309noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-1554364017954490930.post-10457721444010004152010-10-31T17:08:00.000-07:002010-10-31T17:12:17.937-07:00A Rima Mais Bonita<em>Cansei-me dos poemas que escrevi</em><br /><em>Mas não tive coragem de os rasgar</em><br /><em>São versos meu amor... falam de ti</em><br /><em>Mesmo que às vezes finjam não falar</em><br /><em></em><br /><em>O fado, quando chegou à noitinha,</em><br /><em>Ficou todo contente por me ver</em><br /><em>Pediu-me versos novos e eu não tinha</em><br /><em>Rasguei-os antes mesmo de os escrever</em><br /><em></em><br /><em>Agora, quando o fado me visita</em><br /><em>Já traz poemas feitos de tristeza</em><br /><em>Cansado, escolhe a rima mais bonita</em><br /><em>E deixa-a esquecida sobre a mesa</em><br /><em></em><br /><em>Então, chega a saudade e eu regresso</em><br /><em>Às quadras que não tinha terminado</em><br /><em>São versos, meu amor, quando as começo</em><br /><em>Mas assim que as acabo já são fado.</em><br /><em></em><br /><strong>Tiago Torres da Silva </strong>para<br /><strong>Marco Rodrigues</strong>Renato Silvahttp://www.blogger.com/profile/11166640658963319309noreply@blogger.com0