domingo, 5 de abril de 2009

Puro Teatro

Só te queria dizer que estou grávida, mas tu decidiste fugir com a cadela tinhosa com que agora andas...podias ter ouvido aquilo que eu tinha para te dizer, não ia pedir-te ajuda nem nada disso, apenas queria que me ouvisses por uma vez mais na tua vida. O que eu tive de aturar por tua culpa, o que eu tive de ver e viver...apareceu-me cá a louca com que andavas, não bastava ter conhecido o teu filho (que até nem é mau rapaz, diga-se de passagem) e ainda me apareceu esta vaca acabada de sair dos anos sessenta, só lhe faltava os rolos na cabeça, de resto ela tinha tudo. Como é que podeste ter mulheres tão diferentes? Como é que consegues? Nem menciono essa feminista que andas agora a comer desalmadamente e com quem vais fugir para Estocolmo, o que é que tu viste nela? Parece uma cadela prenha, juro pela minha vida que parece. Eu não tinha nada a ver com elas...desculpa, mas é verdade! Já deves ir longe a esta hora, infelizmente tenho a televisão para me lembrar de ti a cada instante, não existiu homem que tivesse dado mais voz a anúncios do que tu, ainda parece que estás em todo o lado. Um dia tenta encontrar-te comigo, só para conheceres o teu filho, isto se o quiseres conhecer porque se não quiseres também escusas de me voltar a aparecer à frente, já bem basta o que fiz à minha casa por tua culpa, queimei o colchão, parti uma janela...da única coisa que não tiveste culpa foi da vinda da Candela, mas essa também aparece sempre sem avisar e com o dobro dos problemas que eu tenho; quem é a mulher que se mete com terroristas xiitas? Só uma louca...também agora já está nos braços do Carlos e nem se deve lembrar desse episódio. Só sobrei eu para juntar as peças todas, como se isto tudo se tivesse passado num palco, como se fossem várias cenas e fizessem puro teatro...

"Fue tu mejor actuación...destrozar mi
corazón, y hoy que me lloras de veras,
recuerdo tu simulacro. Perdona que no te
crea, me parece que es teatro.

Y acuérdate que según tu ponto de vista
yo soy la mala.

Teatro lo tu yo es puro teatro, falsedad
bien ensayada, estudiado simulacro."

A partir de "MULHERES À BEIRA DE UM ATAQUE DE NERVOS" de Pedro Almodóvar

1 comentário:

Teresa Raquel disse...

Um exclênte exêmplo é o que tu és.