quinta-feira, 31 de março de 2011

Apanhava chuva com as mãos como quem colhe a terra que não é sua. Algumas gotas fugiam-lhe entre os dedos e ele ainda se ajoelhou a ver se conseguia salvar alguma gota mais rebelde, mas mal caíam no chão transformavam-se numa pequena poça, e essa já não lhe pertencia, era da terra (da sua terra). Esperava ver o sol aparecer de qualquer lado, mas a sua vista não avistava mais que nuvens, e todas elas juntas, como se tivessem combinado um piquenique para o qual ele não fora convidado. Gostaria de namorar com uma nuvem. Uma daquelas que anda sempre de um lado para o outro, e quanto mais nos aproximamos, mais longe ela está de nós. Um constante jogo entre o rato e o gato, uma metáfora para a vida, a sua vida. Trilhou caminhos que não eram seus e foi dar a ruas que não conhecia. Encontrou-se nos lugares mais inusitados e nunca conseguiu ver a sua imagem, por muito que a procurasse. Onde andaria a sua cara? O seu rosto? Perdido ou encontrado? Talvez diferente, e de tão diferente ele nem se conhecia. Perdeu-se no lugar onde nunca se encontrou e agora deambulava à procura daquilo que não fora. Não chorava porque isso seria demasiado óbvio e a situação não pedia tal sentimento, apenas um leve franzir da sobrancelha, apenas um leve toque nos seus olhos, prontos a entornarem água e a unirem-se com a chuva (mas sem nunca o fazerem).

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