sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

As Rosas

Lembro-me do dia em que fizeste anos porque coincidiu com aquele ano em que a geada destruiu as rosas que em tempos tinhamos semeado.
Não chorei, nem pelo teu aniversário nem pelas rosas.
Foi o único ano em que não vieram à vila amolar as facas e entregar o subsídio anual. As estradas estavam todas cortadas, ninguém se atrevia a visitar uma localidade tão recôndita como a nossa.
Não tivemos bolo nem um jantar especial para festejar o teu aniversário, e mesmo que quisesse entregar-te uma rosa não podia, tinham sido todas destruídas.
Também não te entreguei amor naquele ano, há anos que não são propícios a certos sentimentos.
A raiva chegou-te mais tarde.
No dia em que me deste banho com água a ferver é que eu senti o poder que as chamas têm num corpo sem alma. Não senti nem uma queimadura. O corpo estava todo vermelho, como se eu fosse feito de trevas, e sabes uma coisa? Até gostei da sensação.
Hoje plano por sobre a minha alma, o meu corpo está sozinho.
Já não cultivo rosas nem festejo aniversário, sou apenas eu.
Podes encontrar-me a voar por sobre o tempo e a rejeitar qualquer noção de realidade, ainda continuo a desprezar quem vive apenas por viver.
Já não moro na nossa casa, tenho uma morada aberta por sobre a paixão.
Sou o templo que construí.

2 comentários:

Anónimo disse...
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Henrique Prudêncio disse...

Renato, depois de muito pouco pensar cheguei à conclusão que é absolutamente necessário colaborarmos juntos num texto/poema. Talvez a esperança das tuas palavras combinada com as minhas "depressões poéticas" dê algo interessante no mínimo. Abraços ;)