quarta-feira, 19 de agosto de 2009

No Príncipio...Era A Terra

E de repente vejo-me a matar a minha filha e a pensar que não tinha outra hipótese, penso que a honra é aquilo que mais valioso temos na nossa vida e que a vontade de um não pode ser a vontade dos outros, mas que a vontade dos outros, por vezes, tem de ser a vontade de um. Que estranho é este homem que começa a nascer e agora, a esta hora da noite, pus-me a pensar que homem é este que mata a sua filha em nome de uma guerra, isto não cabia na cabeça de ninguém hoje em dia, bem...talvez coubesse na cabeça de certos fanáticos que ainda hoje matam os filhos, mas para um mero rapaz ocidental nascido num dos berços da Europa? Que homem este, que força que ele tem...será que eu, com este corpo e esta cabeça, consigo entrar dentro dele? Aos poucos...aos poucos penso que sim. Não ando a ler todos os livros que me aparecem sobre ele, todos os textos, todas as ideias que já foram escritas, isso não me interessa por agora; agora é o conhecimento, são as bases, sou eu e o texto que tenho para dizer e é através desse texto que eu vou ficar a conhecê-lo, não através daquilo que os outros escreveram, o que me interessa é aquele homem naquele momento, no momento em que eu o encontro, em que eu digo aquilo que ele pensa, só o texto e nada mais, o resto vem depois...o destruirem-me as ideias que eu já tinha sobre ele, o darem cabo daquilo que eu pensei, mas isso é o normal, mas mesmo assim não me rendo, defendo até à última linha cada coisa que acho que está certa porque sou eu que o faço, é de mim que ele nasce, o que ele sofre, o que ele transporta é através de mim que tem de passar por isso ninguém melhor do que eu para saber o que ele quer. Claro que está aqui um pouco de egocentrismo, mas caramba...nunca mais o vou poder fazer e muito menos nestes moldes; o normal será até nunca mais fazer uma personagem em que mato a minha própria filha, por isso o melhor é aproveitar agora e esburacar cada pedaço da sua alma, que por momentos (insisto) que por momentos...vai ser a minha alma. Vou voltar a ser rei (que saudades, sabem que sim, os bons velhos tempos...), voltar a transportar toda a importância para uma personagem, voltar a ter aquele olhar (que olhar!!), mas não o mesmo olhar, os olhos continuam a ser os meus mas os desígnios são outros, agora obedeço a um Oráculo, há uma força suprema por cima de mim, um céu que me pode cair em cima (sempre deve doer um pouco mais o céu inteiro do que apenas o céu da Dinamarca...). Mas estou pronto, ou por outra, começo a estar pronto para levar com esse céu. Começo a ter a velha vontade de voltar a trabalhar, de encontrar o meu irmão, ver a minha mulher, abraçar pela última vez a minha filha, bem...até pareço um homem de família num daqueles contos de Natal da Disney. Vou voltar aos primórdios, ao príncipio de tudo, ser um dos primeiros homens que pisou a Terra (claro que ele não é assim tão antigo, mas fica mais poético), e vou estar atento porque coisas destas...só se vivem uma vez na vida.

Vou abrir os céus, calcorrear a terra
Fazer da minha vontade a do meu povo
E conhecer aquilo que o mar encerra
No sangue ardente que eu próprio revolvo...

3 comentários:

Niusha disse...

É essa a vontade e é essa a força.
Esquece as dúvidas, as incertezas.
Não importa.
Estás ali para dar tudo. Para errar (quem sabe), para acertar (quem sabe).
Só o fazes para ti.
Ninguem mais.
De ti. Para ti.
Teu.

Marta Queiroz disse...

Força nesse 3º ano. Estarei lá (agora como convidada LOL já entrarei em primeiro lugar) para te ver brilhar com esse rei, como só tu o sabes fazer. TU e mais ninguém! :) Já sofro de saudades do teu abraço.
Beijo, meu amor.

Paulo Ferreira disse...

Nesta nossa vida, ja não seria nada sem ti. Irmão, amigo, companheiro e colega.
Juntos sempre!