domingo, 7 de junho de 2009

Senhora da Nazaré

Cheguei a casa e respirei o meu ar, aquele que sempre foi meu e que ninguém pode ver, aquele que apenas entra em mim e não tem espaço para caber no nariz dos outros. Entrei em casa e apeteceu-me chorar, chorar pelo que fui e pelo que fiz, pensar nos momentos em que fui feliz e naqueles em que não tive ninguém ao lado (e afinal a minha vida sendo verso soube ser fado e eu sempre caminhei com a esperança de encontrar alguém que soubesse para onde eu ia). Cheguei a casa e lembrei-me do que fui, dos lugares por onde andei, as mudanças que o meu corpo sofreu, que eu próprio também sofri, lembrei-me de tudo aquilo que passou por mim, lembrei-me principalmente das minhas lágrimas num quarto às escuras, à espera que alguém se lembrasse que eu existia e me quisesse dar um abraço. Lembrei-me de tanto e fiquei com tão pouco...fiquei apenas com aquilo que devia ficar, desses tempos apenas algumas memórias sobraram e sei que essas vão manter-se pela vida toda, vão ficar gravadas em mim e eu nelas...sabes uma coisa? Agora sou feliz, agora consigo sentir por breves momentos o que é a felicidade porque estou contigo, a minha solidão arranjou companhia e já não sabe o que é estar sozinha; construíste a minha felicidade e ainda me trazes sonhos, hoje o fado é outro...

"...também sou um pescador que anda no mar
Ao largo da vida apreoei nas vagas sem fim
vi o meu barquito de sonhos quase a naufragar
As minhas redes lancei com confiança..."

3 comentários:

Marta Queiroz disse...

:) eu gosto tanto de ti, porra!
e quando estiveres num quarto escuro outra vez, agora que já me conheces, telefonas-me e eu entro pela tua casa a dentro e abraço-te durante dias!

mafalda chantre disse...

Para mim, o teu melhor texto é sem dúvida o que está no sobre mim. Sinceramente... acho que sim, ali sim, revelas o teu talento para escrita. O mais pequeno, mais simples, mas diz tanto coisa...

Lucília disse...

Eu sei desse quarto sem luz, dos livros e das bolachas, dos prantos e da luta... Se para se ser assim como tu és agora que então todos passassemos por esse quarto sem luz.
Tenho-te na conta daqueles que são imensos, nem tu ainda sequer consegues ver as tuas fronteiras, a geografia de um Talento e de uma Alma assim, não cabem em qualquer tipificação ou quantificação.
Mas isto todos nós sentimos e constatamos sempre que representas ou simplesmente és.
Mas sabes, há sempre um quarto sem luz e um pacote de bolachas onde se possa ir ter, por isso guia-te sempre pelo que leste e pelo que te propuseste ser e fazer, nos dias em que te faltou um Abraço.
O Rapazinho de Olhos Esbugalhados de Azul, a fazer de "carcunda" numa audição... Deixar-me-ei sempre guiar pelo instinto.
Tal como o primeiro Abraço, um outro.

Lucília