sábado, 25 de abril de 2009

O Guarda-Chuva de Cecília Roth

Gosto da ideia de sair do teatro e estar a chover na rua, em mim apenas um sobretudo azul, daqueles que vão até aos pés mas que ao longe parece que roçam no chão; tenho ainda um guarda-chuva que abro enquanto ando, ao longe ficaram apenas pequenas luzes que se vão apagar dentro de momentos para voltarem a surgir no dia seguinte, gosto da ideia de algo morrer para voltar a nascer no dia seguinte, como se fosse um ciclo infindável e ininterrupto (que possa ver durante muitos anos as luzes do teatro a apagarem-se atrás de mim...). Enquanto ando, sorrio...sorrio por o dia ter corrido bem, pelo espectáculo ter decorrido da forma melhor possível e por tudo parecer conjugar a certa altura (nada está sempre certo, apenas conseguimos ter alguns momentos de paz). Fiquei com esta imagem hoje em mim e decidi escrevê-la, talvez seja uma idéia romântica depois de ter visto "Tudo Sobre A Minha Mãe" (o meu novo vício: a descoberta das antiguidades de Almodóvar), tinha de prestar homenagem aquele chapéu-de-chuva colorido de Cecília Roth momentos antes de perder o filho num acidente...como é colorido o universo feminino de Almodóvar, nunca vimos mulheres tão feias a ficarem bonitas pelo olhar atento que a sua câmara deita sobre elas. Marisa Paredes, Penélope Cruz (sim, Hollywood tirou-lhe a inocência que estava nos seus traços e deu-lhe uma maturidade que aqui ainda desconhecíamos), e depois existe Espanha, Barcelona, Madrid...as luzes, essas tais luzes do teatro que aqui estão presentes através de Tennessee Williams e Lorca, o teatro está sempre presente, a cada esquina há alguém a representar, sempre...a única arte que não tem fim, que não consegue parar, há sempre esse "puro teatro" que já tínhamos visto em "Mulheres À Beira De Um Ataque De Nervos" e o fio condutor de tudo isto: Almodóvar. Que venha esses "Abrazos Rotos"...

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