quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Escrevi Teu Nome No Vento

o frio faz-me encolher os ombros, e sobre mim cai uma neve que não pedi. não sei que horas são, perdi o relógio numa estrada a que não voltei. talvez tenha entrado noutro mundo, um distante daquele que conhecia e, principalmente, que reconhecia. encostei-me à minha saudade, mas ela deixou o meu corpo cair no chão. não sou amparado, nem sequer pelo vento. caio com a força da madrugada sobre os meus ombros. o sol teima em não nascer, em esconder-se. dizem que hoje há uma chuva de cometas, mas ainda não vi nada a passar por aqui. talvez os cometas não tenham escolhido a minha janela, talvez não faça parte da sua rota. ouço o vento, aqui dentro do quarto. ouço o vento mas não consigo perceber o que ele quer dizer. talvez esteja a esconder aquilo que tem entalado na sua garganta (se é que se pode dizer que o vento tem garganta). será que o vento chora? será que sente a dor que é tão nossa? talvez ele faça estes sons por estar a gritar as suas dores, mas eu não consigo percebê-lo. não consigo alcançar o próprio vento. talvez ele esteja a gritar por ajuda, a pedir o meu socorro, mas eu não consigo alcançá-lo, não tenho braços para isso. gostava que a minha boca roçasse ao de leve nas mãos daquela ventania que anda lá por fora. isto não tem significado nenhum, seria apenas uma sensação nova, todos precisamos de novas sensações. queria fazer qualquer coisa, mas deixo-me ficar neste quarto, agarrado a um romance que já vai nas últimas páginas e que conta a história de um grande amor em nove semanas e meia; sim, a literatura erótica já chegou às minhas mãos, já posso dizer que sou um adulto. amanhã volto a ouvir os fados que me acompanham, se tiver os dias (e as noites) repletos de fado, já me sinto feliz. ontem fui embalado por mísia às três e meia da manhã, hoje foi a vez de ir ver raquel tavares e amanhã kátia guerreiro; os meus dias confundem-se com os anos do fado. não sei o que posso dizer mais. ah, sim... o vento. mas esse eu não percebo o que quer dizer.
Escrevi teu nome no vento
Convencido que o escrevia
Na folha dum esquecimento
Que no vento se perdia
Ao vê-lo seguir envolto
Na poeira do caminho
Julguei meu coração solto
Dos elos do teu carinho

Em vez de ir longe levá-lo
Longe, onde o tempo o desfaça
Fica contente a gritá-lo
Onde passa e a quem passa

Pobre de mim, não pensava
Que tal e qual como eu
O vento se apaixonava
Por esse nome que é teu

E quando o vento se agita
Agita-se o meu tormento
Quero esquecer-te, acredita
Mas cada vez há mais vento
Jorge Rosa

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