sexta-feira, 2 de julho de 2010

No Silêncio De Uma Catedral Verde

Ergui-me no silêncio de uma catedral verde.
Estranha cor esta que escolheram para uma catedral; talvez a quisessem vestida de esperança, e afinal, acabaram por manchá-la de sangue.
As mãos do padre ainda se apresentam com marcas do seu crime.
Um Homem nunca deveria rejeitar um filho, mesmo quando essa criança é feita sobre a anunciação de um pecado. A criança nem teve tempo de soltar as primeiras lágrimas, pois mal saiu do ventre da sua mãe, já o pai estava pronto a asfixiá-lo. A mãe chorava uma dor que apenas ela podia compreender, matavam-lhe a seiva do seu corpo, decepavam-na sem lhe terem pedido licença.
O padre esfregava as mãos, para ver se conseguia afugentar da sua mente aquilo que tinha feito. Não conseguia soltar uma lágrima que fosse, e a sua cabeça latejava como os sinos daquela velha catedral. Subiu e desceu várias vezes a escadaria que dava para o quarto da sua amante de tantas noites, desnorteado por uma criança que rejeitava como sua.
Que escândalo! Que vergonha!
Imaginava o povo todo a revoltar-se contra ele e a virem na sua direcção com archotes prontos a pegarem-lhe fogo. Talvez por isso, decidiu que apenas restava uma saída para aquela criança: teria de morrer nas suas próprias mãos. E foi assim, que no meio do silêncio daquela catedral, ele matou o seu próprio filho.
A mãe sabia perfeitamente aquilo que o velho padre tinha feito á sua criança, mas não tinha forças para fazer fosse o que fosse. Gritou com quantas forças tinha, disposta a ultrapassar todas as paredes que a protegiam (ou davam-lhe a ilusão de uma certa protecção).
Mas o silêncio manteve-se inalterável.
Já não se ouvia o choro de nenhuma criança e o velho padre já ia noite fora à procura de um copo de vinho que lhe acalmasse o espírito.
A mulher viu-se sozinha, a chorar o nome que lhe tinham posto, e que tinha perdido na mesma noite do seu novo baptismo: mãe.

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