domingo, 20 de dezembro de 2009

Rainhas da Morte

Sempre fui a mais forte por ser a mais velha e contudo, sem te ter ao meu lado não sou nada. Não me deixes entregue à minha sorte, não me deixes sozinha neste sótão onde os fantasmas teimam em visitar-me e onde todos parecem ter a tua cara. Quando olho ao espelho vejo o rosto das duas, porém as rugas são todas minhas, tu mantens a juventude que nunca te vai abandonar e que faz os homens olharem para ti. Dá-me um pouco do amor que recebes e talvez eu fique menos amarga, talvez alguém me queira provar às duas da manhã quando passeias pela casa com as roupas da Senhora. Fazemos parte uma da outra, como se tivéssemos nascido ao mesmo tempo do mesmo ventre, duas filhas de um demónio ainda sem nome e preparadas para cometer qualquer crime. Mas tenho uma certeza em mim...se alguém me tivesse amado alguma vez na vida, eu nunca faria o que estou disposta a fazer. Eu sei que tu me amas, mas falo de outro amor, falo de um amor que vá para lá daquele que podemos ter, daquele que conseguimos. Entrega-me, também tu, a tua vida. Como se fosse um copo de vinho feito do teu sangue, algo que eu não possa recusar. Bebe-me também a mim de um só trago, e tenta não engasgar-te, afinal as minhas veias são feitas do mesmo material das tuas e podes sofrer pequenas convulsões. Abraça-me como se fosse a primeira vez, deixa-me sentir um aconchego que nem em criança conheci, eu juro que se tivesse amor seria uma pessoa melhor, mas ninguém olha para mim, todos me rejeitam e baixam os olhos quando eu passo, não é fácil encarar um demónio em carne e osso. Somos sublimes, temos algo de divino em nós e preparámos o melhor altar que este mundo já conheceu, rainhas da morte por direito e conquista! A nossa espada são os escarros que nos saem da boca, o desprezo pela ordem vigente e a liberdade uma regra nascida em nós. Não nascemos para ser pão, mas sim a semente que nunca cresce e que estraga tudo aquilo que está à sua volta, somos o flagelo que não tem fim nem medida. Abandonem os corpos à nossa passagem e acreditem que se formos servir na vossa casa, não haverá vestígios de felicidade que vos possam salvar. Nascidas do escuro e entregues à luz, dois corpos à deriva da vida, duas nascentes sem terem direito a rio.
Podem sorrir; depois...iremos morder os vossos lábios.

2 comentários:

Paulo Ferreira disse...

nem sabes o que te espera Solange,nem sabes...

Rita disse...

Ah que saudades que eu tenho disto.