Morri no Outono da nossa despedida
Fui folha que caíu, murchou no chão
É tão amargo o sabor da partida
E tão breve o tempo da paixão
Voltarei a nascer na Primavera
Quando me entregar ao sol de Agosto
Nascido do ventre de uma quimera
Com a luz mortiça do sol posto
Mas sei que hei-de morrer a cada Inverno
A alma transformada em manto de lua
Fui folha que procurou um chão mais terno
E que apenas conheceu o frio da rua.
quarta-feira, 31 de março de 2010
terça-feira, 30 de março de 2010
Abri o guarda-chuva.
Já me tinha esquecido do que é sentir a água a cair-nos sobre o rosto.
Lembrei-me da banheira onde a esponja era o carro que percorria a estrada do meu corpo, sempre sem destino, sempre à deriva pelas minhas costas.
Aos poucos confundi a água da chuva com as minhas lágrimas.
Ninguém reparava em mim.
Quem passava tinha algum destino, apenas eu estava à deriva.
Quando dei por mim estava frente-a-frente com um carro.
Ele apitava, apitava...o som daquela buzina na minha cabeça, até agora...
Quis fugir, esconder-me, meter-me na toca de onde nunca devia ter saído.
Procurei o ventre que me gerou e tive medo de não encontrar o sítio onde um dia nasci.
Chorei por me sentir órfão.
Chorei por ser filho daquela chuva que me caía no rosto.
Deixei cair o guarda-chuva na estrada onde me encontrava.
Estava perdido, perdido de mim mesmo.
Não sentia o meu cheiro, não reconhecia aquele lugar, não sabia como tinha ido ali parar.
E olhei para as minhas mãos...já não eram minhas
Não reconheci aqueles traços, aqueles dedos.
Tudo era diferente de mim, eu já era outro.
Talvez nunca tenha sido eu mesmo.
Talvez que eu fosse aquele que nunca foi.
O que ainda poderá ser...sei lá.
Sonho de mim mesmo...talvez fosse isso.
Um sonho de mim mesmo. Talvez me tenha criado a mim próprio.
Já me tinha esquecido do que é sentir a água a cair-nos sobre o rosto.
Lembrei-me da banheira onde a esponja era o carro que percorria a estrada do meu corpo, sempre sem destino, sempre à deriva pelas minhas costas.
Aos poucos confundi a água da chuva com as minhas lágrimas.
Ninguém reparava em mim.
Quem passava tinha algum destino, apenas eu estava à deriva.
Quando dei por mim estava frente-a-frente com um carro.
Ele apitava, apitava...o som daquela buzina na minha cabeça, até agora...
Quis fugir, esconder-me, meter-me na toca de onde nunca devia ter saído.
Procurei o ventre que me gerou e tive medo de não encontrar o sítio onde um dia nasci.
Chorei por me sentir órfão.
Chorei por ser filho daquela chuva que me caía no rosto.
Deixei cair o guarda-chuva na estrada onde me encontrava.
Estava perdido, perdido de mim mesmo.
Não sentia o meu cheiro, não reconhecia aquele lugar, não sabia como tinha ido ali parar.
E olhei para as minhas mãos...já não eram minhas
Não reconheci aqueles traços, aqueles dedos.
Tudo era diferente de mim, eu já era outro.
Talvez nunca tenha sido eu mesmo.
Talvez que eu fosse aquele que nunca foi.
O que ainda poderá ser...sei lá.
Sonho de mim mesmo...talvez fosse isso.
Um sonho de mim mesmo. Talvez me tenha criado a mim próprio.
Parolagem da Vida
Como a vida muda.
Como a vida é muda.
Como a vida é nuda.
Como a vida é nada.
Como a vida é tudo.
Tudo que se perde
mesmo sem ter ganho.
Como a vida é senha
de outra vida nova
que envelhece antes
de romper o novo.
Como a vida é outra
sempre outra, outra
não a que é vivida.
Como a vida é vida
ainda quando morte
esculpida em vida.
Como a vida é forte
em suas algemas.
Como dói a vida
quando tira a veste
de prata celeste.
Como a vida é isto
misturado àquilo.
Como a vida é bela
sendo uma pantera
de garra quebrada.
Como a vida é louca
estúpida, mouca
e no entanto chama
a torrar-se em chama.
Como a vida chora
de saber que é vida
e nunca nunca nunca
leva a sério o homem,
esse lobisomem.
Como a vida ri
a cada manhã
de seu próprio absurdo
e a cada momento
dá de novo a todos
uma prenda estranha.
Como a vida joga
de paz e de guerra
povoando a terra
de leis e fantasmas.
Como a vida toca
seu gasto realejo
fazendo da valsa
um puro Vivaldi.
Como a vida vale
mais que a própria vida
sempre renascida
em flor e formiga
em seixo rolado
peito desolado
coração amante.
E como se salva
a uma só palavra
escrita no sangue
desde o nascimento:
amor, vidamor!
Carlos Drummond de Andrade
Como a vida é muda.
Como a vida é nuda.
Como a vida é nada.
Como a vida é tudo.
Tudo que se perde
mesmo sem ter ganho.
Como a vida é senha
de outra vida nova
que envelhece antes
de romper o novo.
Como a vida é outra
sempre outra, outra
não a que é vivida.
Como a vida é vida
ainda quando morte
esculpida em vida.
Como a vida é forte
em suas algemas.
Como dói a vida
quando tira a veste
de prata celeste.
Como a vida é isto
misturado àquilo.
Como a vida é bela
sendo uma pantera
de garra quebrada.
Como a vida é louca
estúpida, mouca
e no entanto chama
a torrar-se em chama.
Como a vida chora
de saber que é vida
e nunca nunca nunca
leva a sério o homem,
esse lobisomem.
Como a vida ri
a cada manhã
de seu próprio absurdo
e a cada momento
dá de novo a todos
uma prenda estranha.
Como a vida joga
de paz e de guerra
povoando a terra
de leis e fantasmas.
Como a vida toca
seu gasto realejo
fazendo da valsa
um puro Vivaldi.
Como a vida vale
mais que a própria vida
sempre renascida
em flor e formiga
em seixo rolado
peito desolado
coração amante.
E como se salva
a uma só palavra
escrita no sangue
desde o nascimento:
amor, vidamor!
Carlos Drummond de Andrade
segunda-feira, 29 de março de 2010
Da Morte Não Espero Nada
Não sei se parta, se fique
Da morte não espero nada
Vou mas é fazer-me à estrada
Andar co'a vida ao despique
E sobretudo no Entrudo
Manter a cara lavada
A cantar à desgarrada
A cavalo numa espiga
Se assim quiser a cantiga
E bailar e fazer pose
No prato do arroz doce
Pr'a alegrar a madrugada
Vou mas é fazer-me à estrada
Da morte não espero nada
Não sei se entenderam bem
Não é uma brincadeira
A história se é verdadeira
Dá sempre aquilo que tem
À fantasia escondida
De qualquer coisa perdida
Não sei se fico, se vou
Eu já nem sei onde estou
Com tanta hora de estrada
Eu já nem sei estar parada
E se ouço um assobio
Continuo mas sorrio
Vou mas é fazer-me à estrada
Da morte não espero nada
Não sei quem veio acudir
Ouço contar uma história
Com voz de pai ou de mãe
Ao pé de mim está alguém
E nunca é a fingir
Quando estou quase a dormir
Chegado o tempo das magas
Com as luzes apagadas
Eu olho o mundo daqui
E que lindo que ele é
Que ao vê-lo eu sinto até
Que já morria por ti
Vou mas é fazer-me à estrada
Da morte não espero nada.
Amélia Muge (para Ana Laíns)
Da morte não espero nada
Vou mas é fazer-me à estrada
Andar co'a vida ao despique
E sobretudo no Entrudo
Manter a cara lavada
A cantar à desgarrada
A cavalo numa espiga
Se assim quiser a cantiga
E bailar e fazer pose
No prato do arroz doce
Pr'a alegrar a madrugada
Vou mas é fazer-me à estrada
Da morte não espero nada
Não sei se entenderam bem
Não é uma brincadeira
A história se é verdadeira
Dá sempre aquilo que tem
À fantasia escondida
De qualquer coisa perdida
Não sei se fico, se vou
Eu já nem sei onde estou
Com tanta hora de estrada
Eu já nem sei estar parada
E se ouço um assobio
Continuo mas sorrio
Vou mas é fazer-me à estrada
Da morte não espero nada
Não sei quem veio acudir
Ouço contar uma história
Com voz de pai ou de mãe
Ao pé de mim está alguém
E nunca é a fingir
Quando estou quase a dormir
Chegado o tempo das magas
Com as luzes apagadas
Eu olho o mundo daqui
E que lindo que ele é
Que ao vê-lo eu sinto até
Que já morria por ti
Vou mas é fazer-me à estrada
Da morte não espero nada.
Amélia Muge (para Ana Laíns)
domingo, 28 de março de 2010
Não sei o que escrever por estar vazio, sentir-me vazio.
Preciso de ser preenchido, de pôr um tinteiro novo dentro de mim.
Talvez seja este o sentimento quando se está à beira de um esgotamento.
Ok...não estou à beira de um esgotamento, mas fica sempre bem um pouco de drama.
Porque é que na vida real tenho sempre a tendência para o drama? Quando não a tragédia...
Só nestas alturas é que há uma espécie de Agamémnon dentro de mim.
Mas devia de existir um Esopo! Devia de estar sempre em Esopo (tirando a parte da corcunda).
A vida não traz serpentinas com ela...é pena.
Gostava de andar e sentir cairem várias serpentinas.
Ouvir uma música sempre por perto, uma que acompanhasse o meu andar.
Estou com a noite...com a noite e com o som da RTP a dar o "The Departed" (é bom estar acompanhado pela voz do Nicholson).
Sinto-me um balão...vou pôr ar e já volto...
Preciso de ser preenchido, de pôr um tinteiro novo dentro de mim.
Talvez seja este o sentimento quando se está à beira de um esgotamento.
Ok...não estou à beira de um esgotamento, mas fica sempre bem um pouco de drama.
Porque é que na vida real tenho sempre a tendência para o drama? Quando não a tragédia...
Só nestas alturas é que há uma espécie de Agamémnon dentro de mim.
Mas devia de existir um Esopo! Devia de estar sempre em Esopo (tirando a parte da corcunda).
A vida não traz serpentinas com ela...é pena.
Gostava de andar e sentir cairem várias serpentinas.
Ouvir uma música sempre por perto, uma que acompanhasse o meu andar.
Estou com a noite...com a noite e com o som da RTP a dar o "The Departed" (é bom estar acompanhado pela voz do Nicholson).
Sinto-me um balão...vou pôr ar e já volto...
sábado, 20 de março de 2010
Amanhã fecha-se um ciclo.
Por enquanto não sei ainda o que dizer.
Nem sei ainda como me sentir.
Foi bom? Foi muito bom, foi como nunca mais voltará a ser.
Podia ter sido diferente? Podia, mas não teria sido a mesma coisa.
Devo tudo aquele sítio e às pessoas que lá encontrei.
O que sou, o que fui, o que ainda serei...
Por enquanto não sei ainda o que dizer.
Nem sei ainda como me sentir.
Foi bom? Foi muito bom, foi como nunca mais voltará a ser.
Podia ter sido diferente? Podia, mas não teria sido a mesma coisa.
Devo tudo aquele sítio e às pessoas que lá encontrei.
O que sou, o que fui, o que ainda serei...
quarta-feira, 17 de março de 2010
A tal Lemercier...(II)
Deixei o vestido sobre cama, minha senhora.
Não levo nada que seja seu, a não ser a minha irmã.
Mas que eu saiba a Clara não lhe pertence.
Não sei o que vai ser de nós, também não estou para me preocupar.
Não faça essa cara, não lhe roubámos nada, nem o seu amante.
Fica tudo como estava antes de chegarmos aqui.
Apenas levamos a noite que fomos nós que trouxemos.
Levo a doce madrugada que nos encobria os gestos.
Está tudo combinado com o leiteiro, ele...ele continuará a vir diariamente.
Não tem de se preocupar com nada, o seu leite continuará a chegar a horas.
Não tente chorar minha Senhora, há muito que a sua cara está seca.
Não precisamos que tenha pena de nós, já basta a pena que temos de si.
Não sorria, se faz favor. É um favor que faz a si mesma.
Esse vestido fica-lhe mal, não vai muito bem com as suas curvas.
Curvas? Eu disse curvas? Como posso falar de uma coisa que é uma inexistência...
Oh, minha Senhora. Não nos guarde rancor.
Nós até gostámos de si, em certas alturas.
Às vezes até sentimos compaixão, mas raras vezes.
A Senhora não me traz nada de bom à memória.
Devo-lhe os piores anos da minha vida, a minha triste existência.
Não me arrependo de nada do que fiz, apenas do que deixo por fazer.
Nunca se esqueça do meu nome, voltarei a encontrá-la de cada vez que fechar os olhos.
Serei a assombração que nunca irá desaparecer da sua cabeça.
A sombra que não sabe largá-la.
Agora...agora vou com a noite.
Até sempre, minha Senhora.
Não levo nada que seja seu, a não ser a minha irmã.
Mas que eu saiba a Clara não lhe pertence.
Não sei o que vai ser de nós, também não estou para me preocupar.
Não faça essa cara, não lhe roubámos nada, nem o seu amante.
Fica tudo como estava antes de chegarmos aqui.
Apenas levamos a noite que fomos nós que trouxemos.
Levo a doce madrugada que nos encobria os gestos.
Está tudo combinado com o leiteiro, ele...ele continuará a vir diariamente.
Não tem de se preocupar com nada, o seu leite continuará a chegar a horas.
Não tente chorar minha Senhora, há muito que a sua cara está seca.
Não precisamos que tenha pena de nós, já basta a pena que temos de si.
Não sorria, se faz favor. É um favor que faz a si mesma.
Esse vestido fica-lhe mal, não vai muito bem com as suas curvas.
Curvas? Eu disse curvas? Como posso falar de uma coisa que é uma inexistência...
Oh, minha Senhora. Não nos guarde rancor.
Nós até gostámos de si, em certas alturas.
Às vezes até sentimos compaixão, mas raras vezes.
A Senhora não me traz nada de bom à memória.
Devo-lhe os piores anos da minha vida, a minha triste existência.
Não me arrependo de nada do que fiz, apenas do que deixo por fazer.
Nunca se esqueça do meu nome, voltarei a encontrá-la de cada vez que fechar os olhos.
Serei a assombração que nunca irá desaparecer da sua cabeça.
A sombra que não sabe largá-la.
Agora...agora vou com a noite.
Até sempre, minha Senhora.
segunda-feira, 15 de março de 2010
A tal Lemercier...
O relógio bate a meia-noite.
Ouvem-se, lá fora, os mochos a lembrarem que a noite veio para ficar.
Dentro de mim cai a noite, contudo, existe uma pequena fogueira de luz que ainda não se apagou.
É ela que nasce, é ela que vem das trevas de onde apenas saem os monstros sagrados.
Amar na servidão não é amar...é redobrado amor.
Pelo meio do ódio nasce o amor mais violento, em cada odeio-te existe um amo-te a gritar.
As palavras sufocam-na porque está a nascer.
Está a regressar à terra que a cuspiu.
Na boca traz marcas de sangue dos filhos que nunca teve.
O seu ventre está podre do veneno que lhe deitaram em criança.
Tem os olhos de uma louca que perdeu a sua loucura.
E ainda chora.
Chora porque apenas tem por mãe a solidão que a gerou.
Chora porque é filha do silêncio e da tristeza.
Não há vinho que lhe mate a sede, não há pão que lhe mate a fome.
Cresce por entre as desgraças.
Filha de um diabo que Deus não conseguiu prender.
Vem das cavernas de onde apenas sai o medo.
Tem o uivo de um lobo que perdeu a matilha mas que continua à solta pela serra.
Mãe de si própria, Senhora de si mesma.
A raiva cresce-lhe e ganha forma no seu rosto.
O peito está trespassado por balas que nunca foram atiradas.
Dragão que se ergue aos céus com a cara de um abutre esfomeado.
Animal selvagem que gosta de lamber as próprias feridas.
Cai para voltar a levantar-se.
Mulher reprimida, mulher humilhada, mulher que causa repulsa.
Pervertida, tarada.
Os nomes cruéis que lhe puseram são os sobrenomes com que sempre sonhou.
Nasce da noite para se mostrar ao dia.
Nasce para atemorizar e canta com a força da noite.
Nascida das tempestades e com a força de um vendaval.
Nascida de uma cascata onde apenas corre a água podre de quem é infeliz.
Fuma o teu cigarro, deixa-me em cinzas.
Solange Lemercier...a célebre criminosa.
Ouvem-se, lá fora, os mochos a lembrarem que a noite veio para ficar.
Dentro de mim cai a noite, contudo, existe uma pequena fogueira de luz que ainda não se apagou.
É ela que nasce, é ela que vem das trevas de onde apenas saem os monstros sagrados.
Amar na servidão não é amar...é redobrado amor.
Pelo meio do ódio nasce o amor mais violento, em cada odeio-te existe um amo-te a gritar.
As palavras sufocam-na porque está a nascer.
Está a regressar à terra que a cuspiu.
Na boca traz marcas de sangue dos filhos que nunca teve.
O seu ventre está podre do veneno que lhe deitaram em criança.
Tem os olhos de uma louca que perdeu a sua loucura.
E ainda chora.
Chora porque apenas tem por mãe a solidão que a gerou.
Chora porque é filha do silêncio e da tristeza.
Não há vinho que lhe mate a sede, não há pão que lhe mate a fome.
Cresce por entre as desgraças.
Filha de um diabo que Deus não conseguiu prender.
Vem das cavernas de onde apenas sai o medo.
Tem o uivo de um lobo que perdeu a matilha mas que continua à solta pela serra.
Mãe de si própria, Senhora de si mesma.
A raiva cresce-lhe e ganha forma no seu rosto.
O peito está trespassado por balas que nunca foram atiradas.
Dragão que se ergue aos céus com a cara de um abutre esfomeado.
Animal selvagem que gosta de lamber as próprias feridas.
Cai para voltar a levantar-se.
Mulher reprimida, mulher humilhada, mulher que causa repulsa.
Pervertida, tarada.
Os nomes cruéis que lhe puseram são os sobrenomes com que sempre sonhou.
Nasce da noite para se mostrar ao dia.
Nasce para atemorizar e canta com a força da noite.
Nascida das tempestades e com a força de um vendaval.
Nascida de uma cascata onde apenas corre a água podre de quem é infeliz.
Fuma o teu cigarro, deixa-me em cinzas.
Solange Lemercier...a célebre criminosa.
sábado, 13 de março de 2010
A Noite Gosta de Mim
Sei que estás ao pé de mim
Quando o tempo se repete
E o dia chega ao fim
Sem que a noite se inquiete
Nos instantes repetidos
Em que escuto o teu cansaço
Sou igual aos meus sentidos
E o Tempo igual ao Espaço
Mas se o tempo é infinito
Quando o dia chega ao fim
Fecho os olhos e repito:
A noite gosta de mim
E peço ao Tempo e ao Mundo
Que me seja permitido
Viver um breve segundo
Que tu já tenhas vivido
Mas se o tempo é infinito
Quando o dia chega ao fim
Fecho os olhos e repito:
A noite gosta de mim.
Tiago Torres da Silva
Espera por mim todas as noites como se fosse a primeira. Nunca desistas dessa espera. Um dia apareço guiado por uma estrela que perdeu o seu caminho e foi parar à minha janela para me fazer feliz. Sou um filho da noite e apenas ela compreende aquilo que lhe digo em breves palavras. Num céu de estrelas lavrado vamos encontrar-nos um dia, no tal dia em que malmequeres voltarão a abrir-se para nós.
Quando o tempo se repete
E o dia chega ao fim
Sem que a noite se inquiete
Nos instantes repetidos
Em que escuto o teu cansaço
Sou igual aos meus sentidos
E o Tempo igual ao Espaço
Mas se o tempo é infinito
Quando o dia chega ao fim
Fecho os olhos e repito:
A noite gosta de mim
E peço ao Tempo e ao Mundo
Que me seja permitido
Viver um breve segundo
Que tu já tenhas vivido
Mas se o tempo é infinito
Quando o dia chega ao fim
Fecho os olhos e repito:
A noite gosta de mim.
Tiago Torres da Silva
Espera por mim todas as noites como se fosse a primeira. Nunca desistas dessa espera. Um dia apareço guiado por uma estrela que perdeu o seu caminho e foi parar à minha janela para me fazer feliz. Sou um filho da noite e apenas ela compreende aquilo que lhe digo em breves palavras. Num céu de estrelas lavrado vamos encontrar-nos um dia, no tal dia em que malmequeres voltarão a abrir-se para nós.
sexta-feira, 12 de março de 2010
Palma da Mão
Não percebes que o braço não acompanhou o que ia na minha cabeça? Quando dei por mim tinha a mão rente ao teu rosto e depois...depois foi seguir o curso normal de qualquer movimento. A cabeça dizia-me para tomar outra atitude mas o braço estava lançado e eu não tive forças para conseguir detê-lo. Poderia dizer que foi sem querer, mas por breves instantes foi aquilo que me apeteceu fazer, e acabei por fazê-lo. Não vou pedir desculpa por algo que eu não quis fazer, por algo que eu não controlei. Aquele não sou eu, eu não sou aquilo! Recuso-me a ser alguém que se comporta daquela maneira, que tem por hábito aquele tipo de comportamento. Foi uma coisa que ocorreu, própria do momento, tu gritavas e...e eu não sei porque fiz aquilo. Sei apenas que não queria fazê-lo. Que não podia fazê-lo. Mas agora que o fiz, o que me resta?
Não vou arrastar-me de joelhos aos teus pés, seria rídiculo e nem saberia o que dizer.
Não vou penitenciar-me de que maneira for pois isso não estaria certo, não seria o suficiente.
Talvez...talvez devessemos esquecer tudo isto, tudo isto que aconteceu. Passamos uma borracha e apagamos este dia. E apagamos todos os outros que vieram antes deste. E os que virão depois deste. E os que...
Não sei.
Talvez devesse bater em mim mesmo e sentir a solidão que uma pequena palma da mão consegue conter.
Não vou arrastar-me de joelhos aos teus pés, seria rídiculo e nem saberia o que dizer.
Não vou penitenciar-me de que maneira for pois isso não estaria certo, não seria o suficiente.
Talvez...talvez devessemos esquecer tudo isto, tudo isto que aconteceu. Passamos uma borracha e apagamos este dia. E apagamos todos os outros que vieram antes deste. E os que virão depois deste. E os que...
Não sei.
Talvez devesse bater em mim mesmo e sentir a solidão que uma pequena palma da mão consegue conter.
terça-feira, 9 de março de 2010
Quando Se Reencontraram...
Quando se voltaram a ver já não tinham nada para dizer um ao outro.
Já tinha passado tanto tempo desde a altura em que trocavam palavras, fossem elas escritas ou ditas. Olharam-se nos olhos e apenas viram lágrimas, e talvez, lá no fundo, aquilo que eles tinham sido. Talvez não tivesse sido nada, apenas o fogacho normal que a juventude traz a todos nós, mas na altura tinha tido toda a importância. As coisas são importantes enquanto as vivemos, depois vamos aprendendo a relativizar aos poucos (e talvez seja esse o mal). Não trocaram qualquer palavra sobre o passado e não tinham nada para falar acerca do futuro. Já não tinham nada a ver um com o outro, já não se reconheciam. No entanto, as lágrimas continuavam a cair-lhes pela cara, e eles faziam um esforço para imaginarem aquilo que podiam ter sido, aquilo que podiam ser, aquilo que nunca serão. Tinham vivido a idade das ilusões e tinham-nas guardado como se se tratasse de algum objecto de valor.
Por fim, abraçaram-se.
Não sabem dizer por quanto tempo, também o tempo não é importante para estas coisas, apenas o gesto.
As lágrimas pararam de correr e conseguiram, por fim, sorrir.
Voltaram a ser o que eram, nem que tivesse sido por um breve instante.
Já tinha passado tanto tempo desde a altura em que trocavam palavras, fossem elas escritas ou ditas. Olharam-se nos olhos e apenas viram lágrimas, e talvez, lá no fundo, aquilo que eles tinham sido. Talvez não tivesse sido nada, apenas o fogacho normal que a juventude traz a todos nós, mas na altura tinha tido toda a importância. As coisas são importantes enquanto as vivemos, depois vamos aprendendo a relativizar aos poucos (e talvez seja esse o mal). Não trocaram qualquer palavra sobre o passado e não tinham nada para falar acerca do futuro. Já não tinham nada a ver um com o outro, já não se reconheciam. No entanto, as lágrimas continuavam a cair-lhes pela cara, e eles faziam um esforço para imaginarem aquilo que podiam ter sido, aquilo que podiam ser, aquilo que nunca serão. Tinham vivido a idade das ilusões e tinham-nas guardado como se se tratasse de algum objecto de valor.
Por fim, abraçaram-se.
Não sabem dizer por quanto tempo, também o tempo não é importante para estas coisas, apenas o gesto.
As lágrimas pararam de correr e conseguiram, por fim, sorrir.
Voltaram a ser o que eram, nem que tivesse sido por um breve instante.
sábado, 6 de março de 2010
As Criadas (II)
De cada vez que me pedes para falar sai-me a mágoa pela boca. Não percebes que morro a cada vez que falo contigo? Estou a consumir-me, ando consumido por um tempo que nem é meu. Não me prendas no teu sótão pois já não consigo sair de lá. Não me venhas falar de mordomos e de cozinheiras pois já não sei viver sem eles. Tenho raiva a nascer dentro de mim. Estou transformado numa codorniz que já não sabe cantar. Tomas conta de mim, abraças-me em ti e já não me queres largar. Não percebo o teu conceito de felicidade e andamos numa luta constante para ver quem ganha, e és sempre tu. A tua força não é a minha, as tuas mãos já não são minhas, as tuas meias pretas nunca serão as minhas. E depois existe esta fome...este querer alcançar o prato principal e não passar de um mero aperitivo. Eu juro que a mato! Eu juro que arranjo forças e a obrigo a beber cada gota deste chá que não foi preparado por nós. Mas sinto-me a vacilar, sinto-me a tombar para um poço que tu própria criaste. Olha para a nossa cara, é como se apenas tivéssemos uma cara e nada mais. Será que ouvimos as mesmas canções? Tu gostas da velha Piaf, eu ainda me arrepio quando ouço o Aznavour. Tu és a minha La Vie En Rose e eu não passo de uma velha La Bohéme, e andamos as duas numa valsa à Mille Temps. Onde é que vamos parar? Para onde caminhamos? A morte está sempre presente como coisa certa, sempre à espreita para ver quando pode entrar. Bebo o sangue das tuas veias e não me sinto mal por fazê-lo, transformas-me numa sanguessuga, em algo que nunca quis ser. Somos um monstro sagrado que nunca vê a sua fome saciada, andamos por sobre o lixo como se estivéssemos a pisar ouro. Somos repugnantes para as outras pessoas todas mas também não nos interessa o que elas pensam. Nós somos nós, somos para além dos outros, vivemos no mundo que criámos.
Eu transformo-me em ti e tenho medo que fique cá alguma coisa...fica sempre.
Eu transformo-me em ti e tenho medo que fique cá alguma coisa...fica sempre.
sexta-feira, 5 de março de 2010
quarta-feira, 3 de março de 2010
terça-feira, 2 de março de 2010
Esperei todas as horas como se apenas um minuto tivesse passado. Esperei por ti junto ao cais, procurei-te no jardim mais próximo, fui à tua procura por ruas que nem sequer conhecia e nem um vislumbre da tua sombra. Procurei-te, e ao tentar encontrar-te perdi-me de mim mesmo. Não sei onde fiquei, onde deixei aquilo que eu sou, perdi-me de mim e não deixei rasto. Olho as águas turvas do meu passado, sento-me no velho banco de pedra, à espera que algo aconteça. Espero ver-te chegar de qualquer parte, de qualquer lado, espero que algo aconteça. Roubei a vida que existia em mim e agora morro na imensidão do que fui. Meti por atalhos, não encontrei um caminho que fosse seguro, a que pudesse chamar de meu, nem já do meu nome eu me lembro. Alguém que me chame, que sussurre ao meu ouvido aquilo que eu fui para me lembrar daquilo que eu sou.
A fome de estar vivo é tão intensa que não há pão que mate aquilo que me rói.
A fome de estar vivo é tão intensa que não há pão que mate aquilo que me rói.
segunda-feira, 1 de março de 2010
Ao ver o Cabaret lembrei-me do Ary. Do Ary das "Sete Letras"..."esta palavra saudade...sete letras de ternura...sete letras de ansiedade e outras tantas...de aventura". Lembrei-me do José Luís Gordo..."Nossa Senhora das Dores...tem sete espadas no peito...sete espadas, sete dores...num coração tão perfeito...".
São letras que nos matam, sete letras que reunidas fazem um Mar Português. Quem uniu as letras de forma a fazer esta palavra, única em todo o mundo? Quem terá sido o poeta que se lembrou de, um dia, inventar a mágoa? E de quem foi a primeira lágrima? A tristeza nasceu ao mesmo tempo da alegria? A felicidade existe ou é um mito? Lembrem-se da primeira vez em que choraram, aquela vez em que estavam nos vossos quartos e as lágrimas começaram a cair, lembrem-se desse primeiro choro. Lembrem-se da primeira cantiga, dos primeiros sons, cheirem a vossa infância. E lembro-me da Rosa Lobato de Faria, quem melhor do que ela para descrever os aromas da nossa existência? E o cheiro do corpo? Lembro-me do Mourão-Ferreira..."olho as roupas no chão, que tempestade!...há restos de ternura pelo meio...". E a Natália..."do amor nada mais resta que um Outubro...e quanto mais amada mais desisto...". Todos estão vivos e ainda a escreverem o primeiro poema. Ninguém conseguiu descrever o amor, podemos aproximar-nos daquilo que ele poderá ser, mas ninguém consegue pô-lo em palavras. E pensem no acto de perdoar...perdoo-te aquilo que passámos mas não o que ainda vamos passar...quem somos nós para perdoar ou censurar alguém? Somos feitos de imperfeições, daquilo que gostaríamos de ser, do que ambicionámos. "Creio que o amor tem asas de ouro...amén", também eu creio nas deusas, nas fadas, nos atlantes, na vida para lá do seu sentido. Gostava de ser eu a escrever a minha história, de vê-la nascer de mim. "Nem má sorte, nem má sina, nem choradinho trinado...o destino só destina, quem já nasce conformado", Manuel Alegre. E tantos outros a colocarem dúvidas a todos nós, cada poema é uma pergunta que nunca tivemos coragem de fazer. E quanto a mim...
agarro a madrugada
como se fosse uma criança
uma roseira entrelaçada
uma videira de esperança...
sempre o Ary.
São letras que nos matam, sete letras que reunidas fazem um Mar Português. Quem uniu as letras de forma a fazer esta palavra, única em todo o mundo? Quem terá sido o poeta que se lembrou de, um dia, inventar a mágoa? E de quem foi a primeira lágrima? A tristeza nasceu ao mesmo tempo da alegria? A felicidade existe ou é um mito? Lembrem-se da primeira vez em que choraram, aquela vez em que estavam nos vossos quartos e as lágrimas começaram a cair, lembrem-se desse primeiro choro. Lembrem-se da primeira cantiga, dos primeiros sons, cheirem a vossa infância. E lembro-me da Rosa Lobato de Faria, quem melhor do que ela para descrever os aromas da nossa existência? E o cheiro do corpo? Lembro-me do Mourão-Ferreira..."olho as roupas no chão, que tempestade!...há restos de ternura pelo meio...". E a Natália..."do amor nada mais resta que um Outubro...e quanto mais amada mais desisto...". Todos estão vivos e ainda a escreverem o primeiro poema. Ninguém conseguiu descrever o amor, podemos aproximar-nos daquilo que ele poderá ser, mas ninguém consegue pô-lo em palavras. E pensem no acto de perdoar...perdoo-te aquilo que passámos mas não o que ainda vamos passar...quem somos nós para perdoar ou censurar alguém? Somos feitos de imperfeições, daquilo que gostaríamos de ser, do que ambicionámos. "Creio que o amor tem asas de ouro...amén", também eu creio nas deusas, nas fadas, nos atlantes, na vida para lá do seu sentido. Gostava de ser eu a escrever a minha história, de vê-la nascer de mim. "Nem má sorte, nem má sina, nem choradinho trinado...o destino só destina, quem já nasce conformado", Manuel Alegre. E tantos outros a colocarem dúvidas a todos nós, cada poema é uma pergunta que nunca tivemos coragem de fazer. E quanto a mim...
agarro a madrugada
como se fosse uma criança
uma roseira entrelaçada
uma videira de esperança...
sempre o Ary.
Vida D'aventura
Já te cansaste
Dessa vida d'aventura
E vens agora à procura
Do aconchego d'outrora
Já te cansaste
Voltas agora a correr
Pois então fica a saber
Que chegas tarde e a má hora
Teu gesto encerra
O que eu já sei afinal
Quando há gaivotas em terra
É sinal de vendaval
O tempo vai
Ensinando quem quiser
Que à primeira qualquer cai
À segunda cai quem quer
Já te cansaste
Dessa vida tão sonhada
Onde não havia nada
Que pudesse ser eterno
Já te cansaste
Hoje queres minha paixão
Onde passaste o Verão
Podes passar o Inverno.
Mário Raínho
Dessa vida d'aventura
E vens agora à procura
Do aconchego d'outrora
Já te cansaste
Voltas agora a correr
Pois então fica a saber
Que chegas tarde e a má hora
Teu gesto encerra
O que eu já sei afinal
Quando há gaivotas em terra
É sinal de vendaval
O tempo vai
Ensinando quem quiser
Que à primeira qualquer cai
À segunda cai quem quer
Já te cansaste
Dessa vida tão sonhada
Onde não havia nada
Que pudesse ser eterno
Já te cansaste
Hoje queres minha paixão
Onde passaste o Verão
Podes passar o Inverno.
Mário Raínho
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