O relógio bate a meia-noite.
Ouvem-se, lá fora, os mochos a lembrarem que a noite veio para ficar.
Dentro de mim cai a noite, contudo, existe uma pequena fogueira de luz que ainda não se apagou.
É ela que nasce, é ela que vem das trevas de onde apenas saem os monstros sagrados.
Amar na servidão não é amar...é redobrado amor.
Pelo meio do ódio nasce o amor mais violento, em cada odeio-te existe um amo-te a gritar.
As palavras sufocam-na porque está a nascer.
Está a regressar à terra que a cuspiu.
Na boca traz marcas de sangue dos filhos que nunca teve.
O seu ventre está podre do veneno que lhe deitaram em criança.
Tem os olhos de uma louca que perdeu a sua loucura.
E ainda chora.
Chora porque apenas tem por mãe a solidão que a gerou.
Chora porque é filha do silêncio e da tristeza.
Não há vinho que lhe mate a sede, não há pão que lhe mate a fome.
Cresce por entre as desgraças.
Filha de um diabo que Deus não conseguiu prender.
Vem das cavernas de onde apenas sai o medo.
Tem o uivo de um lobo que perdeu a matilha mas que continua à solta pela serra.
Mãe de si própria, Senhora de si mesma.
A raiva cresce-lhe e ganha forma no seu rosto.
O peito está trespassado por balas que nunca foram atiradas.
Dragão que se ergue aos céus com a cara de um abutre esfomeado.
Animal selvagem que gosta de lamber as próprias feridas.
Cai para voltar a levantar-se.
Mulher reprimida, mulher humilhada, mulher que causa repulsa.
Pervertida, tarada.
Os nomes cruéis que lhe puseram são os sobrenomes com que sempre sonhou.
Nasce da noite para se mostrar ao dia.
Nasce para atemorizar e canta com a força da noite.
Nascida das tempestades e com a força de um vendaval.
Nascida de uma cascata onde apenas corre a água podre de quem é infeliz.
Fuma o teu cigarro, deixa-me em cinzas.
Solange Lemercier...a célebre criminosa.
segunda-feira, 15 de março de 2010
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2 comentários:
Amo-te
eu também
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