Ela olhou para a montra da loja de vestidos de noiva e desatou num pranto; obviamente que quem passava pensava que ela era uma solteirona qualquer a pensar no grande dia, ou então uma virgem para sempre entregue a orações e nada mais do que isso, mas não, o problema não era nenhum destes que passava pela cabeça dos banais humanos que olhavam para ela: como é que alguém arranja um vestido de noiva em Agosto se a loja está fechada? Claro que agora o comum leitor deste texto vai chamá-la de irresponsável e dizer que não se guarda tudo para a última, que ela já devia ter escolhido o vestido à muito tempo e que agora era tarde para ela fazer fosse o que fosse se não aceitar os factos. O que o estimado leitor deste texto não sabe é que o acompanhante desta menina (vulgo namorado) a tinha pedido em casamento exactamente à dois dias, e milagre dos milagres (visto ainda existirem homens eficazes, ou então com medo que as mulheres pensem melhor e resolvam fugir...) tinha marcado o casamento para exactamente três dias a seguir ao pedido. Sim, esta história pode parecer um pouco inverosímil e até, talvez, já tenha deixado alguns de vós desesperados e, como conclusão desistiram de a ler (o que é uma perda enorme para qualquer leitor atento dos textos de grande qualidade literária que vão passando por aqui), mas a verdade é que tudo isto é verídico e o homem cismou mesmo em casar daí a três dias; o problema, e nisto nós homens também somos culpados, é que ele não pensou em tudo aquilo que a noiva também tem para resolver (para começar porque é uma indelicadeza marcar um casamento sem saber se a respectiva senhora está no tal período complicado do mês, porque convenhamos: o vestido é branco!!), mas isto não intererrou minimamente ao macho latino e por isso mesmo encontramos esta pobre mulher a chorar frente a uma loja de vestidos de noiva. Pensam agora vocês, e muito bem, o porquê de ela não meter-se no seu carrinho e ir procurar outra loja mas esta mulher encontra-se presa ao chão, porque está presa ao vestido cor de creme que apenas ali encontrou, ali, naquela montra! "Mas ela ainda está com caprichos?" pensam todos vocês, e mais uma vez a demonstrar rápida eficácia mental, mas caramba! É o casamento dela, o único que ela vai ter (não se aceitam opiniões quanto a esta frase, vocês não conhecem o namorado da senhora também não podem opinar quanto tempo é que isto tudo vai durar) e não quer que ele seja de qualquer maneira, já bem basta não saber minimamente o que a espera no próprio dia (ainda por cima tinha sido um homem a preparar tudo), compreenda-se que esta mulher está como nós perante um filme com o Harrison Ford, à espera de uma enorme catástrofe e, ao menos, queria ir bem vestida para ter algo de positivo para recordar (ela já estava a pôr em causa todo o resto da festa, é verdade). Bem...ela tinha sempre outra opção, mais difícil, é verdade, mas mesmo assim uma opção mais que válida dadas as circunstâncias...pegar no seu telemóvel e pura e simplesmente dizer ao rapaz que já não se queria casar com ele, que tinha tido um espasmo no momento em que ele se declarou e que aquilo que parecia ter sido um sim a sair da sua boca foi apenas um pequeno fio de baba acompanhado de alguns monossílabos; ou então dizer a verdadeira razão porque sempre gostou de filmes com a Meg Ryan: era uma lésbica incurável, louca por loiras e com tendência a usar sacos de pão no lugar das cuecas (peço desculpa mas esta última parte obviamente que não tem nada a ver com a Meg Ryan...quer dizer, para ser sincero também nunca vi as cuecas dela, mas prefiro não ir por aí...). Havia tantas desculpas possíveis mas nenhuma tinha sentido, nenhuma era dotada de razão, nenhuma era...era...nenhuma era o suficiente para ela conseguir esquecer aquele vestido! Ela apenas se queria casar para poder usar aquele vestido, ela queria lá saber do rapaz, da festa e fosse do que fosse: a sua razão de viver naquele momento era aquele vestido, e devido a isso os seus olhos pareciam uma pequena catarata prestes a explodir perante a povoação mais próxima. Ela até podia não se casar, mas aquele vestido tinha de ser dela, e naquele momento, agora que o tinha visto não o podia perder, e não foi de modas: vá de agarrar numa pedra e pregar com ela na bela vitrine daquela imponente loja de noivas, e então, como se tivesse acabadinha de sair dum filme de gangsters, vá de roubar o vestido e enfiar-se com ele dentro do metro (entretanto tenho de referir que ia sofrendo de cinco avc's consecutivos). E claro que todos vocês pensam que a história vai acabar assim, com ela a fugir e a casar-se com o seu belo vestido, mas enganam-se, eis que quando ela entra no metro repara numa cigana que dentro de um saco verde, um enorme saco verde, tem exactamente cerca de dez vestidos iguais aquele que ela tinha acabado de roubar e, para finalizar, a cigana ainda teve o descaramento de dizer:
"Por dez euros e noventa cêntimos já não se encontram vestidos destes, foi uma sorte a prima Cidália ainda ter lá estes todos para eu casar as minhas meninas, vão ficar tão lindas...." "E quando são os casamentos" pergunta um homem que...(bem, não sei se era bem um homem, mas tinha bigode, embora também tivesse qualquer coisa que parecessem uns seios...enfim) "Quando são os casamentos? Então isso é pergunta que se faça? Em Setembro, ora essa! Mas alguém se casa em Agosto??"
Adeus vestido, adeus festa, adeus casamento, adeus noivo. O vestido ficou no lixo, a festa não se concretizou, o casamento foi cancelado e o noivo ficou a chorar no colo da mãe dela. Ela comprou um bikini e anda a pavonear-se por Vilamoura.
sábado, 22 de agosto de 2009
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
:D
Renato... há muito tempo que não me ria tanto!!!!!
Mas acho que deverias ter mais compaixão para com a pobre da senhora... afinal, no imaginário de uma mulher tudo deve estar perfeito, o seu corpo, o cabelo, as unhas... e o mais giro é que gostava de te deixar um facto interessante sobre vestidos de noiva: só as magras, parvas e magras é que têm direito a vestidos magníficos... se tens uns quilinhos a mais ou formas de mulher(como diriam os nossos antepassados) bem te podes casar usando um belo saco de batatas ou algo parecido.
bjs da Tinita
Enviar um comentário