terça-feira, 9 de novembro de 2010

Não Olhes de Frente Para a Minha Memória

não olhes de frente para a minha memória
se a vires passa de lado e não penses, sequer uma vez, em voltar-te para trás
entrega ao esquecimento tudo aquilo que não lembramos
não vale a pena avivar aquilo que já morreu
não voltes a revolver as cinzas de alguma coisa que ardeu e perdeu-se no fogo
ateia uma nova fogueira
deixa que as chamas cheguem ao céu e construam as estrelas que não soubemos agarrar
faz os desenhos da erva no papel já amarelecido pelo tempo
constrói o templo onde nunca habitámos
isso sim será útil a tudo aquilo que ainda está por vir
lembra-te apenas do único erro que não podes cometer
não olhes de frente para a minha memória
encara-a de soslaio, como algo que nunca existiu
finge que não a conheces, ignora-a
faz isso por mim, por ti, pelo esquecimento
não mexas nessas cinzas
ainda queimas as mãos
e não deites lágrimas sobre essa velha fogueira
ela apaga-se sozinha
tal como o esquecimento.

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