domingo, 28 de fevereiro de 2010

Monte dos Vendavais

Os lençóis esvoaçavam ao vento e longe, onde a vista já não alcança, chora uma mulher. As suas lágrimas são feitas das gotas de chuva da noite anterior. Já não se ouvem os sons característicos das grandes montadas, já todos os cavalos abalaram e sabe-se lá quais aqueles que voltarão. Deixa cair o seu lenço na terra molhada, na sua varanda torna-se invísivel, na sua muralha torna-se indestrutível. Ninguém compreende a dor daqueles que sentem a solidão mesmo ao seu lado, sentada à cabeceira como um familiar que teima em não se ir embora. Mas se não fosse a solidão, quem faria companhia aos desprovidos de um carinho? Tocam ao de leve na porta mas ela não responde, talvez pensem que ela está deitada e não a incomodem mais, afinal de contas, não se pode alimentar uma boca que não se quer abrir. A paisagem está serena, da chuva apenas ficaram alguns vestígios, e ela, como que uma sombra que se esqueceu de acompanhar a sua imagem. Não pode existir vida em quem apenas suspira pela vinda da morte, não pode haver alegria para quem nunca conheceu outra companhia se não a da tristeza. Na sua gaveta ainda tem o lenço manchado pelo sangue daquele que já não volta, o sangue dele também lhe corre nas veias. Quem perdeu o norte ainda tem três opções, três direcções, talvez que alguma estrela a guie para longe dos montes. Um dia a saudade virá buscá-la e nunca mais irá regressar ao monte onde um dia deixou o seu sangue. O amor, esse vai dentro da sua bagagem.

2 comentários:

Anónimo disse...

Muito bonito. Aliás, os teus textos são sempre bons. Este foi baseado no romance de Emille Bronte?
Eric

Renato Silva disse...

Não foi baseado no seu Monte dos Vendavais pois nunca chegaria a um décimo do que ela conseguiu. É apenas o "meu" Monte dos Vendavais:)