sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

De cada vez que toco na saudade ela apenas sabe escapar-se por entre os meus dedos. O tempo passa e por vezes caio no erro de pensar que vamos crescendo, pois cada vez mais eu penso que o tempo nos vai fazendo ficar mais pequenos. O crescimento é a ilusão que o tempo nos dá, e aquilo que ele deixa é apenas a saudade entrenhada na nossa pele, é ela a causadora de tudo aquilo que vai acontecendo pelo nosso corpo. Não sei que idade tenho, às vezes dou por mim ainda a aprender as primeiras palavras, as mais simples. Cada dia é feito de uma nova aprendizagem e de novas prisões, vivemos sempre agarrados a algo. Passam os dias e o sentimento de posse é cada vez mais forte, agarramos com as mãos aquilo que a alma gostaria de agarrar mas que não lhe é permitido. Por vezes fugimos. Fugimos de nós próprios, andamos à nossa procura e não nos conseguimos encontrar, e choramos a nossa solidão. O nosso mal é a solidão desmedida a que somos sujeitos, todos vivemos de estar sós, mesmo que à nossa volta haja uma população. A noite canta os seus gritos, chora a sua raiva, a chuva não é mais do que o lamento de almas que já não conseguem cantar. As vozes enrouquecem, ficam mais baças, ficamos mais enevoados. O tempo fustiga-nos, como se tivesse um chicote pronto a bater. Vivemos dos momentos em que conseguimos sentir a felicidade, pelo menos tocar nela, vislumbrá-la. Há coisas que a boca não diz porque o corpo se habituou a esquecer, pelas veias correm lembranças de momentos nunca partilhados. Vivemos de breves momentos, de breves segundos, e há instantes em que agarrámos a vida e nem sequer os aproveitámos. Já perdemos tantas oportunidades...passamos a vida a vê-las passar, deixamos que a maior parte desapareça. O que é que cada um de nós dava para voltar a viver um determinado momento? Por voltar a rir, a chorar, a sentir, a pulsar? Por um breve minuto somos capazes de entregar a nossa vida, na esperança de que ela nos retribua o que nos roubou.

"A saudade andou comigo
e através do som da minha voz
no seu fado mais antigo
fez mil versos a falar de nós..."

1 comentário:

Henrique Prudêncio disse...

Texto emocionante. Parabéns Renato.