Parti os copos todos mal o jantar acabou, o pior é que cortei a mão.
Não sei o que me deu mas depois de um jantar daqueles tinha de explodir para algum lado e os copos eram o que estava mais à mão. Depois deitei-me no sofá e deixei-me adormecer, fiquei a pensar no que fazia à minha vida depois das conclusões a que todos tinhamos chegado e não cheguei a nenhuma conclusão. Ao menos não chorei, a idade começa a fazer de mim uma pedra que teima em não quebrar, ou então o impacto não foi suficientemente forte. Devia ter partido os pratos também, ao menos não ficava com recordação nenhuma deste maldito jantar, só podia ser ideia minha a de juntar tanto imbecil nuns simples dez sete metros quadrados. Levantei-me do sofá e fui até à cozinha para ver se ao menos teriam tido o bom senso de me deixar qualquer gota de vinho que me podesse aliviar o peso da noite, claro que os cabrões não me deixaram nada que não fosse umas míseras garrafinhas de água, e mesmo assim algumas estavam abertas. Fui até ao armário e tirei a caixa dos chocolates de ginja, não ia deixar o meu estômago à procura de álcool quando lhe era tão essencial para a sobrevivência. Encostei-me ao lava-loiça e aí sim comecei a soltar umas lágrimas, pior foi quando cheguei à porta da sala e reparei no cenário devastador que se apresentava à minha frente, parecia que a terceira guerra mundial tinha começado mesmo ali, na minha sala. Até uma mesa pequena, herança da minha avó, estava do avesso, de pernas para cima, como se estivesse à espera que alguém a desflorasse na flor da primavera. Algumas molduras também estavam partidas, mas isso eu até agradecia pois as fotografias apenas servem para aumentar o sofrimento de quem não esquece o que ficou para trás. Não sabia por onde começar a arrumar, também não tinha a mínima vontade de o fazer, apenas tinha a sensação de que tinha de sair dali, fugir para bem longe, onde a confusão não existisse e apenas ouvisse a minha respiração. Deixei-me cair parede abaixo, faltavam-me as forças para tudo, até para sair de casa, claro que ouvia o som da minha respiração, ofegante como estava só um surdo a não iria ouvir. Tirei os sapatos e fiquei a olhar para os meus pés, engraçado como as unhas demoram tão pouco tempo a crescer, deve haver uma explicação qualquer para esse facto, mas não era altura para estar a pensar nas minhas unhas. Levantei-me, ergui-me, respirei e avancei frente à cozinha, peguei na maior faca que consegui encontrar e por breves momentos consegui alcançar a felicidade.
domingo, 3 de janeiro de 2010
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